São Paulo, segunda-feira, 15 de maio de 1995
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Você vai conhecer o Sul queira ou não queira

ANDRÉ FORASTIERI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Porto Alegre é genial. Vou lá todo ano desde que nasci. É a metrópole brasileira mais agradável em que já pisei, meio praia (de rio), meio européia, mas bem Brasil.
Porto Alegre também é uma cidade cheia de malucos. E você vai conhecer vários deles em breve.
Um monte de bandas gaúchas estão para ser apresentadas ao resto do país via uma pá de CDs.
O engraçado é que, durante muito tempo, quem vinha do Nordeste era olhado de lado no sul. Baiano isso, baiano aquilo. Coisas de país grande.
Se o Brasil fosse vários países, certamente a gente já aproveitava essas broncas regionais e fazia umas Bósnias por aqui.
O preconceito continua, mas dá a impressão de hoje ser mais econômico que racial... sei lá.
Maior complexo de inferioridade ao contrário. E sem nenhuma razão de ser, garanto.
Me dei ao trabalho de ir lá checar e te garanto que o cena roqueira da cidade está viva e pululante.
O lance era o Elétrika Live, um show com 15 bandas locais, ligado a um programa-evento da Ipanema FM.
A história foi num lugar do cacete que tem lá, o Opinião (por que não tem um lugar em São Paulo como o Opinião? Ou como o Aeroanta de Curitiba? Isso aqui é a maior metrópole da América Latina e berço do rock nacional ou o quê?).
Por trás de tudo, estava a personalidade radiofônica e roqueira porto-alegrense Kátia Suman.
A coisa mais perto da Kátia que teria em São Paulo seria uma mistura de Miranda com Sônia Abreu... mas a descrição ainda fica bem aquém do peso dela na cena local.
Entre as várias armações da Kátia está o CD ``Elétrika Live", com essas bandas que tocaram no show.
``Essas bandas" têm um nível muito bom mesmo. Não dá para citar as 15, claro. Mas dá para falar bem, sem medo, do Calhere, Tarcísio Meira's Band, Trouble Makers, Tequila Baby, Ultramen.
E principalmente do Walverdes, punk rock de nerd para fãs do Jam, Sham 69, Undertones, Ramones, com letras muito boas e o lema ``cantar em português is cool".
Tocaram também Maria do Relento e Doiseu Mindoisema, duas bandas que em breve terão seus CDs lançados pelo Banquela. Também pelo Banguela sairá ``Segunda Sem Ley", coletânea de bandas gaúchas organizada pelo Egisto, dos Colarinhos Caóticos.
É resultado de um outro evento semanal numa outra casa clássica de Poa, o Porto de Elis, que acabou virando programa em outra rádio de lá, a Felusp.
E para completar, sai já já o disco do Graforréia Xilarmônica, excelente e superinfluente banda porto-alegrense que vai pegar todo mundo que não conhece de surpresa.
Sempre achei que o Graforréia era o filho gaúcho do King Crimson com o Eduardo Araújo, mas provavelmente estou errado.
É tudo lindo e perfeito? Não. Tem muita banda engraçadinha na cena porto-alegrense, influência nefasta de um monte de bandas realmente engraçadas de lá, como o DeFalla e o próprio Graforréia. Tem muito sub-Pin Ups.
Mas não há de ser nada. Para cada banda bundinha de Porto Alegre tem um grupo ótimo como Acústicos e Valvulados. É mais que o suficiente.

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