São Paulo, quinta-feira, 18 de maio de 1995
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Coreógrafa belga traz efeito visual na dança

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Anne Teresa de Keersmaeker -uma das estrelas do Carlton Dance, que se realiza de 1º a 8 de junho em São Paulo e Rio-, nasceu em 1960, mesmo ano da fundação do Ballet do Século 20 por Maurice Béjart.
Depois de reinar por mais de 30 anos, Béjart deixou seu teatro-sede, o Royal de la Monnaia, de Bruxelas, para dar lugar a Anne Teresa, que lá se instalou em 1991 com seu grupo Rosas, substituindo o norte-americano Mark Morris, malsucedido durante uma curta passagem pelo teatro.
Anne Teresa lidera uma nova geração de coreógrafos belgas, responsável pela projeção da dança no país nestes primeiros cinco anos da década de 90.
Em entrevista exclusiva à Folha, por telefone, Anne Teresa falou de Praga (República Tcheca), onde acaba de se apresentar, sobre o espetáculo que trará ao Brasil.
Embora associe sua dança a outros recursos, como cinema e teatro, ela consegue produzir um profundo diálogo entre coreografia e música.
``Hoje meu trabalho está mais complexo e já não pode mais ser definido como minimalista, como foi no começo de minha carreira", diz Anne Teresa, que nos anos 80 se associou a um grupo de músicos de Nova York, liderado por Steve Reich.
Ela ainda mantém estreito contato com músicos contemporâneos, especialmente Thierry De Mey, autor da composição de ``Kinok", que integra o programa do Carlton Dance.
``Kinok", palavra russa que significa movimento dos olhos, oferece uma visão abrangente do trabalho de Anne Teresa. Evocando o cinema russo do começo do século, a obra se divide em três partes.
A primeira chama-se ``Rosa" e se desenvolve com a projeção de um filme realizado pelo cineasta britânico Peter Greenaway sobre o trabalho de Anne Teresa.
``As imagens servem como contraponto à dança, e a parceria com Greenaway me proporciona diferentes maneiras de organizar movimentos no tempo e no espaço", comenta a coreógrafa.
Em seguida vem ``Kinok", que também lida com a evolução de diferentes imagens. Nesta parte, especialmente, Anne Teresa explora superposições de acelerações sobre desacelerações, distribuídas, por exemplo, entre diferentes partes dos corpos ou entre diferentes partes instrumentais.
Completando o espetáculo, o grupo Rosas interpreta ``La Grande Fuge", dançada ao som de música homônima de Beethoven. Segundo Anne Teresa, esta coreografia tem autonomia própria e é uma espécie de síntese de seus trabalhos anteriores.
Anne Teresa explica que o conteúdo de seus espetáculos está intimamente relacionado aos efeitos visuais. ``Nunca separo as duas coisas quando estou criando", explica. ``A utilização de diferentes recursos promove uma polifonia de expressões."
Ao contrário de fases anteriores, em que trabalhava só com mulheres (daí o nome feminino de seu grupo), Anne Teresa dirige hoje um elenco que também inclui homens, entre eles o brasileiro Osman Kassen Khelili, que pertenceu ao Balé do Teatro Guaíra, de Curitiba, e ao Balé da Cidade de São Paulo.
Para a coreógrafa, a dança é a arte do século. ``É uma expressão sempre usada para exprimir estados muito emocionais. Numa cultura, sempre que acontece alguma coisa extrema, as pessoas dançam, seja quando estão extremamente felizes ou extremamente tristes", afirma.

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