São Paulo, quinta-feira, 18 de maio de 1995
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Amado defende Paulo Coelho na França

ANDRÉ FONTENELLE
DE PARIS

O escritor brasileiro Jorge Amado defendeu Paulo Coelho na entrega do Grande Prêmio Literário da revista ``Elle" a ``O Alquimista", segunda, em Paris.
Convidado especial da cerimônia, com a mulher Zélia Gattai, Amado se disse particularmente contente porque o prêmio ao livro de Coelho, colunista da Folha, foi atribuído pelas leitoras da revista.
``Cada coisa é muito discutida", reconhece Amado, sobre a polêmica quanto ao valor da obra de Coelho. ``A começar por mim, que sou muito discutido."
Amado chegou domingo à França, após ter recebido dois prêmios literários na Itália.
Na Sicília, ganhou o 25º Prêmio Brancati com o russo Alexander Soljenítsin e o alemão Gnter Grass. O outro foi o Prêmio Dei Grandi, em Villa Franca Padovana, perto de Pádua. Também se tornou doutor ``honoris causa" da Universidade de Pádua.

Folha - Qual foi seu sentimento pela premiação de Coelho?
Jorge Amado - Eu disse que estava orgulhoso e alegre, porque um escritor brasileiro estava recebendo, pela tradução francesa de um livro seu, um prêmio importante e porque a edição francesa está tendo um êxito muito grande.
Agora, o mais importante é que, quando um escritor brasileiro tem êxito fora do Brasil, esse êxito repercute sobre todos os escritores brasileiros. Todos nos beneficiamos. Então, uma pessoa que tem um êxito desse tipo, como teve o Paulo Coelho, deve merecer nosso reconhecimento e respeito.
Folha - O sr. acha importante que o prêmio tenha sido dado pelas leitoras?
Amado - É claro. É importante porque não significa que três literatos se reuniram para dar um prêmio. Muitas vezes, é o resultado de um acerto, compreende?
Isso é muito importante, porque o escritor não existe sem o leitor. Eles formam uma cumplicidade e uma unidade. Vim de receber dois prêmios na Itália e nos dois eu disse a mesma coisa: que o grande prêmio do escritor é o leitor. Infeliz é aquele escritor que escreve para ganhar prêmios.
Folha - O fato de fazer sucesso na França pode ajudar Coelho a ser reconhecido no Brasil?
Amado - Não acho. Tom Jobim costumava dizer que o sucesso, no Brasil, é um insulto pessoal. Tem muita gente que fica contente com o sucesso do Paulo Coelho, mas a nossa vida literária tem muita coisa atrasada. Não há o respeito que há na Europa. Se há um escritor de sucesso aqui, as pessoas não saem negando. No Brasil, negam.
José Mauro de Vasconcelos era um romancista muito bem-visto, elogiado. De repente, ele teve um livro que teve um sucesso imenso -``O Meu Pé de Laranja-Lima"- no Brasil e fora do Brasil. Aí ele foi atacadíssimo. Negaram pão e água a ele. Não sei se o sucesso de Paulo Coelho vai levar a um aplauso da chamada elite intelectual brasileira. Duvido. Enfim, desejo que sim.
Folha - Como o sr. vê o debate sobre a obra de Coelho ser ou não ``literatura"?
Amado - Não participo. Acho um debate tolo. É querer negar um êxito. É uma pergunta bastante complexa, por um lado, e, por outro lado, bastante vaga. É um debate um pouco sem sentido. Deve-se compreender que é um escritor brasileiro, que faz sua literatura -que agrade ou não-, que faz sucesso e que esse sucesso é útil não só para ele, mas para todos nós que escrevemos no Brasil.
Folha - Que livros de Paulo Coelho o sr. já leu?
Amado - Ah, isso eu não vou te dizer. Isso já é uma curiosidade falsa. Não é o problema de ter lido tal livro de Paulo Coelho que modifica o que nós temos conversado. Te digo que, além de ser o escritor com o sucesso que tem, é uma pessoa muito correta, decente. Não basta ser um bom escritor. Você precisa ser uma pessoa direita.
Folha - Paulo Coelho será reconhecido no futuro?
Amado - O futuro a Deus pertence, nem a mim, nem a você. Quem vai ser reconhecido, quem sabe? Em geral, quando o escritor morre, no Brasil, tem uns anos de ``exílio", como o grande José Lins do Rego. Agora é que ele está voltando com toda a sua força.
Você tem escritores de muito sucesso em determinado momento que, depois, desaparecem. Você tem escritores que eram de pequeno público e que depois crescem imensamente. Cito o exemplo de Graciliano Ramos. Ou se conservam: Érico Veríssimo, que sempre foi escritor de muito público, continua a ser. Como vai se passar amanhã? Ninguém sabe. Aí já é adivinhação, e não sou adivinho.

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