São Paulo, quinta-feira, 18 de maio de 1995
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Exposição combina arte e design com humor

DANIEL PIZA
DA REPORTAGEM LOCAL

Exposição: Entre Objetos
Sinopse: 30 peças de 14 designers ou artistas
Onde: Galeria Nara Roesler (av. Europa, 655, tel. 011/853-2123, Jardins, zona sul de São Paulo)
Quando: abertura hoje, às 21h; até 10 de junho
Visitação: de segunda a sexta, das 10h às 19h30; sábado, das 10h às 14h
Preços: de R$ 400 a R$ 4.000

Combinar arte e design já foi utopia de gente muito séria, auto-intitulada marxista. Sendo utopia, não se realizou. Com bem menos pretensões e bem mais humor, ``Entre Objetos", que a Galeria Nara Roesler abre hoje, atinge combinação impressionante.
São 30 peças de 14 designers e/ou artistas, coletadas pela crítica e curadora Maria Alice Milliet. Naturalmente, há altos e baixos, mas o conjunto delas é divertido e coerente em sua inventividade.
Todas possuem algum vínculo com o funcional, ou seja, remetem ao design. Há cadeiras, luminárias, mesas de centro, objetos decorativos. Mas elas ou subvertem ou distorcem essas funções.
Em geral, quando se quer dar caráter ``artístico" a peças de design, capricha-se no kitsch, colorido e esdrúxulo (e no preço, se estamos nos Jardins).
A exposição mostra que não é por aí. Mesmo que látex, torniquete, gelo, folha de flandres, elástico, plástico de bolhinha, papelão, arame, gazes e algodão sejam alguns dos materiais pouco ``nobres" usados, não há um único objeto grotesco ou mesmo feio.
Os de Nina Moraes, Lina Kim e a dupla Luciana Martins e Gerson de Oliveira, por exemplo, se ombreiam com os de muito artista plástico badalado pela crítica.
Nina Moraes é mais radical na combinação, ainda que os objetos sejam bonitos. Sua mesa de centro traz sob o vidro alguns cinzeiros que, claro, não podem ser usados. Seu pastiche daquelas garrafas decorativas, com plantas ou seres marinhos, contém cinzeiros e copos de champanhe. (Jac Leirner invejaria tanta ironia.)
Lina Kim também se vale de mordacidade sem se recusar a dar função e beleza aos trabalhos. Num deles, pegou um saco grande de farinha, revestiu com tecido e costurou pérolas; depois o pendurou, como um porta-sapato, e lhe deu um caimento de vestido de noite. (Leda Catunda há anos tenta algo semelhante.)
Luciana Martins e Gerson de Oliveira mostram três luminárias, duas formadas por algodão-bolinha e a outra por gazes, que graças aos materiais têm leveza superior à sugerida por suas dimensões. E a magnífica poltrona ``Cadê", um cubo de elastex que se revela assento confortável. (Frida Baranek se espantaria com a sutileza.)
Há mais exemplos mencionáveis, como a peça de parede em forma de barco que Caito fez com persianas, as cadeiras de Adriana Adam e Sonia Ramos e as de Fernando e Humberto Campana.
E há até um exemplo de ``arte efêmera", muito mais interessante que as performances que os artistas plásticos gostavam de fazer nos anos 70 em defesa da ecologia ou qualquer outra causa à mão: a escultura circular de gelo de Jacqueline Terpins, com vida útil de 24 horas, que é a mais sugestiva ampulheta já feita.

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