São Paulo, quinta-feira, 18 de maio de 1995
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Marsicano lança 1º CD de cítara do Brasil

WILLIAM LI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Show: Alberto Marsicano (cítara) e Caito Marcondes (tabla)
Onde: grande auditório do Masp (av. Paulista, 1.578, tel. 011/251-5644)
Quando: amanhã e sábado, às 20h30
Quanto: R$ 4 e R$ 8

O citarista Alberto Marsicano, acompanhado do percussionista Caito Marcondes (tabla), apresentam amanhã e sábado o recital ``Benares", em que tocarão as músicas do primeiro CD de cítara indiana lançado no Brasil.
Marsicano, o único estudioso do instrumento de que se tem notícia no Brasil, já gravou em 82 um CD em que fazia o acompanhamento musical para poesias de Haroldo de Campos. Este, no entanto, é seu primeiro CD dedicado totalmente à cítara.
Em entrevista à Folha, Marsicano falou sobre a música clássica indiana e sua relação com a cultura hindu.
``Até a década de 70, a música indiana era praticamente desconhecida fora da Índia. Foi em Londres que a música clássica indiana se abriu para o Ocidente graças a Ravi Shankar e alguns outros mestres", explica Marsicano.
Além disso, o sistema e a prática musical indiana quase não têm ponto em comum com a música ocidental. ``Para começar, o sistema musical é quase totalmente diferente, havendo no entanto certas intersecções".
``Na Índia não existem grandes compositores, como Bach ou Beethoven, apesar de terem uma notação musical bastante avançada."
Isto porque o citarista improvisa muito, como o músico de jazz ou a música barroca européia. Pode-se dizer que o sistema musical indiano é semelhante ao baixo-cifrado do barroco.
O músico indiano improvisa livremente e mostra o seu talento criativo. Portanto, não há grandes compositores, mas grandes instrumentistas e improvisadores.
Na música clássica indiana não há conjuntos orquestrais ou solistas. A formação tradicional compõe-se de um trio: a cítara, a tabla e a tampura (instrumento de quatro cordas).
Outra peculiaridade da música indiana é sua ligação com as cores. Para Marsicano, isto também está presente na música ocidental. ``Só para dar um exemplo: o fá é verde e temos a `Pastoral' em fá de Beethoven e a `Pastorale BWV 590' de Bach, também em fá. Na música indiana, essa relação do som com a cor é fundamental."
Uma experiência que Marsicano anda fazendo atualmente é associar a cítara com os impressionistas. Como se sabe, Debussy usou certas escalas indianas em suas obras.
``Impressionismos", o segundo CD de Marsicano que será lançado em agosto, é uma homenagem do músico a Debussy e Erik Satie.
Foi com os Beatles nos anos 70 que Marsicano conheceu a cítara. Começou a participar das aulas que Ravi Shankar dava em Londres nos anos 70. Assim, entrou na Kinara School of Indian Art.
Retornando ao Brasil, montou um pequeno conjunto e começou a fazer algumas experiências com a música ocidental. Nas comemorações dos 300 anos de nascimento de Bach em 1985, Marsicano homenageou-o transcrevendo suas composições para cítara.
Posteriormente, ele foi à Índia e, graças à recomendação de Shankar, entrou para a escola de Krishna Chakravarty, professora da Universidade de Benares, capital cultural da Índia.
Marsicano não reside na Índia; ele faz viagens periódicas para continuar os seus estudos. O ciclo completo do aprendizado de cítara é de 30 anos. Marsicano pratica o instrumento há 20.
A cítara (ou sitar) foi inventada no século 13 pelo indiano Amir Ksnu e possui 18 ou 20 cordas. Seu braço é feito de teakwood, extraída da árvore teka, a mesma madeira com que os indianos constroem os navios.

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