São Paulo, sábado, 20 de maio de 1995
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FHC libera R$ 2,6 bi para o NE, mas decepciona aliados

WILLIAM FRANÇA; FÁBIO GUIBU
ENVIADO ESPECIAL A RECIFE

FÁBIO GUIBU
O presidente Fernando Henrique Cardoso anunciou ontem que o governo federal vai investir R$ 2,6 bilhões na região Nordeste neste ano. A maior parte dos recursos já estava prevista -alguns poucos foram remanejados ou liberados durante a visita.
A expectativa dos políticos nordestinos era de que, além de liberar verbas, FHC traçasse diretrizes mais claras para a região. Um exemplo foi o problema do setor canavieiro: em vez de apontar soluções, o presidente anunciou a criação de uma câmara setorial para a cana-de-açúcar.
``Foi decepcionante. Todos já sabem os problemas que existem no setor. Precisávamos de soluções concretas. Em vez disso, ele adiou o assunto", reclamou o deputado José Múcio Monteiro (PFL-PE), um dos maiores defensores do governo.
Fernando Henrique fez discurso durante a reunião extraordinária da Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste), em Recife, com os dez governadores da região semi-árida (os nove Estados do Nordeste mais Minas Gerais), dizendo que é hora de trabalhar pela região Nordeste.
``Nós já passamos da fase de queixas e promessas, em que a gritaria resolvia os problemas do Brasil. Hoje é trabalhar, trabalhar coordenadamente e com afinco. O sonho começa a se transformar em realidade", anunciou o presidente.
Logo depois de anunciar várias obras e programas nas áreas de transportes, comunicações, educação e saúde, FHC aproveitou para dizer que não faria nenhuma obra gigantesca no Nordeste.
``O Nordeste cansou de anúncios grandes e eloquentes. Nós não o fizemos. Nós estamos anunciando aqui uma nova maneira de gerir o orçamento". Ele mencionou seu compromisso de campanha com a região: ``O Nordeste não é só coração dos problemas do Brasil, é a razão das possibilidades também".
São Francisco
Pouco antes de encerrar a reunião, Fernando Henrique disse que iria passar a palavra para que o ministro Gustavo Krause, do Meio Ambiente, anunciasse medidas na área de irrigação. ``Num governo orgânico é assim: o presidente começa, mas são os ministros que chutam a bola a gol".
Krause leu o texto de um pacto político, o ``compromisso pela vida do São Francisco", que, entre outros pontos, estabelece a continuidade dos estudos para a transposição das águas do rio.
A proposta é de levar as águas do São Francisco, através de um canal artificial, para regiões áridas e semi-áridas de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. A água seria captada na Bahia -que se opõe ao projeto.
Krause disse que o rio está doente e que deixá-lo morrer é uma agressão à consciência nacional. Krause disse que não vê motivos para que seja gerada polêmica com a obra, já que, segundo ele, se for feita obedecerá aos padrões ambientais.
FHC, durante o período em que foi ministro da Fazenda de Itamar, se posicionou contra o projeto. Agora, anunciou que no início do próximo mês fará uma viagem às nascentes do São Francisco para demonstrar todo o seu apoio ao projeto de Krause.
Itamar
O presidente assumiu ontem a defesa de seu antecessor, Itamar Franco, durante o discurso que fez ontem na reunião da Sudene.
Ao anunciar sua visita à hidrelétrica de Xingó, prevista para hoje, FHC disse que a obra foi concluída por Itamar. Esta semana, Itamar foi criticado pelo senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA).
``Houve uma mutação completa no que diz respeito aos negócios da administração pública. Agora é inaceitável qualquer tentativa de utilização de recursos públicos para outro fim que não seja os destinados pelo Congresso Nacional para o bem-estar da população".

LEIA
a íntegra do discurso de FHC na pág. 1-10

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