São Paulo, sábado, 20 de maio de 1995 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Elastica faz tributo ao passado do rock inglês em seu primeiro disco
BIA ABRAMO
O Elastica surgiu no meio da ``new wave da new wave", nome que os semanários ingleses ``New Musical Express" e ``Melody Maker" arranjaram para as bandas geração 94 que revivem o começo dos anos 80. Ao lado do Oasis, foi uma das bandas mais festejadas do cenário inglês no ano passado. Justine Frischman, Donna Matthews (as duas fazem vocais e guitarra), Annie Holland (baixo) e Justin Welch (bateria) são simpáticos e charmosos, é verdade, mas parecem que tem muito pouco ou quase nada a acrescentar. Como o neopunk norte-americano (Green Day, Offspring), em vez de influência criativa, o Elastica provoca uma sensação de ``já ouvi isso antes" irreprimível. E o pior é que as três garotas e o rapaz fazem tudo -ou quase tudo- certo. O despojamento instrumental, a sensibilidade oblíqua, a simplicidade das melodias; à primeira vista, a impressão é que está tudo lá, tal como era no passado. O que falta exatamente? Alma, qualquer que seja, eis a questão. Para chegar perto das suas bandas adoradas (para não dizer, literalmente copiadas), o Elastica tinha que se esforçar mais para introduzir algum elemento seu, de fato. Cada um desses grupos escapava por um lado. Os Stranglers tinham seu baixista francês Jean-Jaques Burnell e um tremendo descaramento de passear por um certo clima de cabaré, o Fall se destacava pela esquisitice das letras e da personalidade de Mark Smith, o Wire fincava suas raízes numa certa tradição pop inglesa. O Elastica, pelo menos até agora, nem tentou ultrapassar a marca da admiração. E nem mesmo procurou disfarçar -a capa faz referência inequívoca a uma capa dos Ramones. Pena, por que, depois da reinvenção do punk pelo Nirvana, seria delicioso assistir à redescoberta da ``new wave". Nem tudo se perde, entretanto. ``Elastica", o disco, sobrevive a algumas audições. Afinal, esse período era bem divertido e seus ecos, mesmo de segunda mão, ainda funcionam. Para quem ainda estava ouvindo a Turma do Balão Mágico nos anos 80, canções como ``Vaseline" e ``Line Up" podem até até ter alguma graça. Justine e Donna até que acertam no diálogo guitarras/vocais. As duas gracinhas mimetizaram uma certa displicência, que deve funcionar bastante ao vivo e foi deixada em paz no disco. Resta esperar que, da próxima vez, o Elastica prefira mais independência de seus fantasmas. Disco: Elastica Lançamento: BMG Preço: R$ 18 (o CD, em média) Texto Anterior: Belly enterra rótulo 'alternativo' no rock Próximo Texto: Trio de rap TLC faz graça com sexo em CD Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |