São Paulo, domingo, 21 de maio de 1995
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Relação contamina mulher

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Ana Lúcia Pinheiro tinha 16 anos quando começou a namorar seu tio José Antonio de Toledo Pinheiro. Hoje, Ana Lúcia tem 26 anos e o tio morreu de Aids três meses atrás, aos 40 anos. Durante dez anos, sobrinha e tio viveram juntos. Em 93, Ana brigou com o tio-marido, conheceu um rapaz em Sergipe e ficou grávida.
Quando fez o exame de gravidez, descobriu que estava grávida e com Aids. O homem que a engravidou fez o teste e constatou que não tinha o vírus HIV.
"Foi assim que meu tio ficou sabendo que tinha Aids. Eu tinha sido infectada por ele", conta Ana Lúcia. No início, o tio-marido reagiu com raiva e ciúmes, depois pediu que ela voltasse para casa.
"A gente queria muito uma criança, mas ele não podia ter filhos. Então me deu a maior força para não abortar, o filho seria de nós dois. Conversei com um médico e ele disse que havia 70% de chances de meu filho nascer sem a doença. Decidi arriscar."
O menino tem hoje um ano e oito meses e Ana não sabe ainda se ele tem o vírus. Em média, o filho de uma aidética conserva anticorpos do HIV por dois anos. Ana vai esperar quatro meses para fazer o teste. "Não quero mais viver com medo. Preciso de uma resposta definitiva", diz.
Ana é uma comerciante de parque de diversões. Tem brinquedos que monta em rodeios e festas pelo interior. Aprendeu o trabalho com o tio-marido.
"Ele era como um pai que você admira e que depois tem a felicidade de ter como amante e marido. Quando soube que tinha me infectado, fiquei com mágoa, mas logo passou. Fazíamos amor com mais intensidade."
(AB)

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