São Paulo, domingo, 21 de maio de 1995 |
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O JULGAMENTO Promotor: O que é ``o amor que não ousa dizer seu nome"? Wilde: ``O amor que não ousa dizer seu nome", neste século, é uma grande afeição de um homem mais velho por um outro mais novo, como havia entre Davi e Jônatas, tal como Platão fez a verdadeira base de sua filosofia, tal como alguém encontra nos sonetos de Michelangelo e de Shakespeare. É aquela profunda afeição espiritual que é tão pura quanto é perfeita. Ela conduz e preenche as grandes obras de arte como as de Shakespeare e Michelangelo e essas duas minhas cartas. É neste século incompreendido, tão incompreendido que pode ser descrito como ``o amor que não ousa dizer seu nome", e, por causa dele, fui colocado onde estou agora. É bonita, é fina, é a mais nobre forma de afeição. Não há nada inatural nisso. É intelectual e existe repetidamente entre um homem mais velho e um mais novo, quando o mais velho tem intelecto, e o mais novo possui toda a alegria, esperança e "glamour de vida diante de si. É assim que deve ser, mas o mundo não entende. O mundo o ridiculariza e às vezes coloca alguém no pelourinho por causa dele. (aplausos da galeria) Promotor: Quero chamar a atenção do sr. para o estilo de sua correspondência com Lorde Alfred Douglas. Wilde: Estou pronto. Nunca me envergonhei do estilo dos meus escritos. Promotor: O sr. é afortunado ou devo dizê-lo impudico? Refiro-me às duas cartas em particular. Na carta número um o sr.usa a expressão "tua alma dourada delicada e o sr. se refere aos "lábios de rosa vermelha de Lorde Alfred Douglas. A segunda carta contém as palavras "Tu és a coisa divina que eu desejo e descreve a carta de Lorde Alfred Douglas como sendo "deliciosa, vinho branco e tinto para mim. O sr. acha que um ser comum dirigiria tais expressões a um jovem? Wilde: Não sou, felizmente penso eu, um ser comum. Promotor: É um prazer concordar com o sr. (diz com ironia) Wilde: Não há nada, asseguro-lhe, em nenhuma das cartas que eu tenha que me envergonhar. A primeira carta é realmente um poema em prosa e a segunda é mais uma resposta literária de uma que Lorde Alfred Douglas me enviara. Promotor: Por que o sr. se relacionava com esses jovens? Wilde: Sou um amante da juventude! Promotor: O sr. exalta a juventude como uma espécie de deus? Wilde: Gosto de estudar o jovem em tudo. Há algo de fascinante na juventude. Promotor: Então, o sr. prefere filhotes a cachorros e gatinhos a gatos? Wilde: Acho que sim. Desfrutaria, por exemplo, a companhia de um advogado imberbe e sem clientes tanto quanto a do mais realizado advogado da Corte. (ruidosas gargalhadas nas galerias) Fragmento do interrogatório a que Wilde foi submetido na sessão do quarto dia do segundo julgamento - 30 de abril de 1895 Tradução de GENTIL DE FARIA Texto Anterior: O insolente Oscar Wilde Próximo Texto: A SENTENÇA Índice |
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