São Paulo, terça-feira, 23 de maio de 1995
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Hoyos vem dançar paixão do flamenco

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A bailarina espanhola Cristina Hoyos, parceira de Antonio Gades durante 20 anos, se apresenta em São Paulo neste fim-de-semana com seu grupo, que ela formou em 1990.
Nascida em Sevilha (sul da Espanha), Hoyos faz do flamenco um ritual hereditário, como se seu melhor mestre fosse a memória interior de uma dança que, em sua terra, é quase um estilo de vida.
Protagonista de filmes de Carlos Saura, como ``Bodas de Sangue", baseado na obra homônima de Garcia Lorca e ``El Amor Brujo", ela também participou de ``Carmem".
Seu grupo, o Ballet Cristina Hoyos, é reconhecida no mundo todo e foi a primeira companhia de flamenco a se apresentar no Teatro da Ópera de Paris.
Reunindo músicos e bailarinos, o grupo mostrará ao público brasileiro o espetáculo ``Caminos Andaluces".
Será um balé sem argumento, com oito coreografias que expressam características de diferentes regiões da Andaluzia, onde surgiu o flamenco.
Além de participar das danças em conjunto, Hoyos realiza um solo de 12 minutos. ``Neste momento, tento mesclar o estilo antigo com um toque de modernidade", disse ela em entrevista exclusiva à Folha.

Folha - Como se caracteriza a dança da Andaluzia?
Cristina Hoyos - Paixão, força interior e sentimento são as principais características da dança desta região.
Folha - Por que você escolheu o flamenco e o que o torna diferente das demais danças espanholas?
Hoyos - O flamenco é minha forma de vida. Creio foi a dança que me escolheu.
O que a torna diferente é a própria expressão das raízes do povo andaluz e suas tradições, além das diferentes culturas que passaram pela Andaluzia.
Folha - Você é a favor da modernização do flamenco?
Hoyos - O flamenco é uma arte jovem e está em constante evolução. Concordo com a modernização, sempre que signifique enriquecer e embelezar o flamenco e desde que suas raízes sejam respeitadas.
Folha - O que foi fundamental em sua formação?
Hoyos - Ver dançar todas as bailarinas da época. Mas, sobretudo, cultivar muita disciplina.
Folha - Você teve um mestre especial?
Hoyos - Sim, Pilar Lopez, que dignificou a arte do flamenco com suas coreografias admiráveis.
Folha - O que Antonio Gades te proporcionou artisticamente?
Hoyos - Com Gades aprendi todas os detalhes que o trabalho teatral exige, não só sobre o baile em si mas também sobre as luzes, coreografias etc.
Ele colaborou para reafirmar o que Pilar Lopes já havia me ensinado: sempre dignificar o flamenco ao máximo.
Folha - No filme ``Bodas de Sangue" você realizou uma interpretação extraordinária da ``Noiva". Como foi seu processo de preparação para este papel?
Hoyos - Sempre amei a obra de frederico Garcia Lorca. Para fazer o filme, voltei a ler o livro e tentei me aprofundar na personagem, que nada me exigiu.
Apenas me envolvi ao máximo com o papel e com o que a coreografia me exigia.
Folha - Por que você deixou de trabalhar com Gades?
Hoyos - Depois de tantos anos compreendi que o momento era oportuno para que eu realizasse coisas que eu desejava fazer, como um espetáculo de flamenco sem argumento.
Folha - Além de técnica, o que é necessário para ser uma boa dançarina de flamenco?
Hoyos - Primeiro, é preciso sentir e amar o baile e o flamenco. Depois, deve-se colocar a técnica à disposição dos próprios sentimentos para dançar com mais liberdade e poder expressar tudo o que se sente.
Folha - É possível descrever suas sensações quando você está dançando?
Hoyos - A sensação é como o próprio flamenco, ``um enigma", já que não se pode decifrar e não há palavras que possam explicar o que se sente no momento que a dança está acontecendo.
Principalmente quando o desejo é dar o máximo, tudo o que temos em nosso interior, para que o público nunca esqueça tais momentos.
Sempre tento seduzir o público para ficar em sua memória, já que o baile vive em mim e minha vida é a dança e o flamenco.

Espetáculo: Caminos Andaluces, com o Ballet Cristina Hoyos
Quando: de sexta a domingo, às 21h
Onde: sexta, no Colégio Miguel de Cervantes, na av. Jorge João Saad, 905, tel. (011) 842-8474); sábado e domingo, no Teatro Municipal de São Paulo, na pça. Ramos de Azevedo, s/nº, tel. (011) 222-8698 região central)
Preço: no Miguel de Cervantes, R$ 250,00 incluindo jantar; no Municipal, de R$ 20,00 a R$ 120,00

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