São Paulo, terça-feira, 23 de maio de 1995 |
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Hoyos vem dançar paixão do flamenco
ANA FRANCISCA PONZIO
Nascida em Sevilha (sul da Espanha), Hoyos faz do flamenco um ritual hereditário, como se seu melhor mestre fosse a memória interior de uma dança que, em sua terra, é quase um estilo de vida. Protagonista de filmes de Carlos Saura, como ``Bodas de Sangue", baseado na obra homônima de Garcia Lorca e ``El Amor Brujo", ela também participou de ``Carmem". Seu grupo, o Ballet Cristina Hoyos, é reconhecida no mundo todo e foi a primeira companhia de flamenco a se apresentar no Teatro da Ópera de Paris. Reunindo músicos e bailarinos, o grupo mostrará ao público brasileiro o espetáculo ``Caminos Andaluces". Será um balé sem argumento, com oito coreografias que expressam características de diferentes regiões da Andaluzia, onde surgiu o flamenco. Além de participar das danças em conjunto, Hoyos realiza um solo de 12 minutos. ``Neste momento, tento mesclar o estilo antigo com um toque de modernidade", disse ela em entrevista exclusiva à Folha. Folha - Como se caracteriza a dança da Andaluzia? Cristina Hoyos - Paixão, força interior e sentimento são as principais características da dança desta região. Folha - Por que você escolheu o flamenco e o que o torna diferente das demais danças espanholas? Hoyos - O flamenco é minha forma de vida. Creio foi a dança que me escolheu. O que a torna diferente é a própria expressão das raízes do povo andaluz e suas tradições, além das diferentes culturas que passaram pela Andaluzia. Folha - Você é a favor da modernização do flamenco? Hoyos - O flamenco é uma arte jovem e está em constante evolução. Concordo com a modernização, sempre que signifique enriquecer e embelezar o flamenco e desde que suas raízes sejam respeitadas. Folha - O que foi fundamental em sua formação? Hoyos - Ver dançar todas as bailarinas da época. Mas, sobretudo, cultivar muita disciplina. Folha - Você teve um mestre especial? Hoyos - Sim, Pilar Lopez, que dignificou a arte do flamenco com suas coreografias admiráveis. Folha - O que Antonio Gades te proporcionou artisticamente? Hoyos - Com Gades aprendi todas os detalhes que o trabalho teatral exige, não só sobre o baile em si mas também sobre as luzes, coreografias etc. Ele colaborou para reafirmar o que Pilar Lopes já havia me ensinado: sempre dignificar o flamenco ao máximo. Folha - No filme ``Bodas de Sangue" você realizou uma interpretação extraordinária da ``Noiva". Como foi seu processo de preparação para este papel? Hoyos - Sempre amei a obra de frederico Garcia Lorca. Para fazer o filme, voltei a ler o livro e tentei me aprofundar na personagem, que nada me exigiu. Apenas me envolvi ao máximo com o papel e com o que a coreografia me exigia. Folha - Por que você deixou de trabalhar com Gades? Hoyos - Depois de tantos anos compreendi que o momento era oportuno para que eu realizasse coisas que eu desejava fazer, como um espetáculo de flamenco sem argumento. Folha - Além de técnica, o que é necessário para ser uma boa dançarina de flamenco? Hoyos - Primeiro, é preciso sentir e amar o baile e o flamenco. Depois, deve-se colocar a técnica à disposição dos próprios sentimentos para dançar com mais liberdade e poder expressar tudo o que se sente. Folha - É possível descrever suas sensações quando você está dançando? Hoyos - A sensação é como o próprio flamenco, ``um enigma", já que não se pode decifrar e não há palavras que possam explicar o que se sente no momento que a dança está acontecendo. Principalmente quando o desejo é dar o máximo, tudo o que temos em nosso interior, para que o público nunca esqueça tais momentos. Sempre tento seduzir o público para ficar em sua memória, já que o baile vive em mim e minha vida é a dança e o flamenco. Espetáculo: Caminos Andaluces, com o Ballet Cristina Hoyos Quando: de sexta a domingo, às 21h Onde: sexta, no Colégio Miguel de Cervantes, na av. Jorge João Saad, 905, tel. (011) 842-8474); sábado e domingo, no Teatro Municipal de São Paulo, na pça. Ramos de Azevedo, s/nº, tel. (011) 222-8698 região central) Preço: no Miguel de Cervantes, R$ 250,00 incluindo jantar; no Municipal, de R$ 20,00 a R$ 120,00 Texto Anterior: Russell viaja no próprio estilo Próximo Texto: 'Crianças' é um longo anúncio de camisinha Índice |
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