São Paulo, terça-feira, 23 de maio de 1995
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Fim do pavio

A longa duração da greve dos petroleiros -que afronta flagrantemente a Justiça- suscita inquietantes considerações. Ao mesmo tempo em que se agrava a situação do abastecimento, não parece haver empenho seja do governo, seja dos grevistas em buscar uma solução rápida e satisfatória para o impasse.
É evidente, de um lado, que a posição dos petroleiros é indefensável. A continuidade da greve viola decisão do Tribunal Superior do Trabalho (TST) e contraria princípios básicos do Estado de Direito.
O coordenador nacional da Federação Única dos Petroleiros, Antonio Carlos Spis, em entrevista publicada ontem nesta Folha, argumentou que a sentença do TST que mandou encerrar a greve seria ``muito polêmica". Se todos os cidadãos se arrogassem o direito de ignorar decisões da Justiça que considerassem discutíveis, não haveria convívio social possível.
Mas Spis admitiu ainda que a paralisação é ``contra o arrocho e as reformas". Nesse sentido, a persistência na greve se explica pelo interesse político de desgastar o Planalto e, com isso, as reformas. Essa tese se reforça com a convocação de greves-relâmpago pela CUT.
De outro lado, e por mais indispensável que seja a exigência de que a volta ao trabalho preceda uma retomada da negociação, é possível que também o Planalto possa ter algum interesse político no prolongamento da greve. As filas para compra de gás e o temor de que faltem combustíveis podem colocar a população contra o movimento, desgastando tanto a categoria quanto a oposição às reformas.
O TST ainda julga recurso dos petroleiros contra a decisão. Aliás, o faz com uma demora absurda. Tal pendência, contudo, não justifica o descumprimento da sentença anterior. O acatamento ou não de uma decisão da Justiça não pode servir como instrumento de chantagem. Essa contingência não isenta o governo da responsabilidade de empenhar-se ao máximo na busca de uma solução, ao contrário da atitude dúbia que tem assumido.
A greve expõe distorções relativas ao setor de petróleo que precisam ser urgentemente revistas. Afinal, foram elas que permitiram que o monopólio, em tese da União e portanto de toda a sociedade, fosse usurpado, apropriado por uma corporação, como se seu fosse, inclusive para utilizá-lo contra a sociedade. E isso é intolerável.

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