São Paulo, sexta-feira, 26 de maio de 1995
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Setor de calçados lidera inadimplência

NELSON BLECHER
DA REPORTAGEM LOCAL

Indústria e comércio de calçados lideram a inadimplência (atraso no pagamento) entre 258 setores pesquisados pela consultoria paulista SCI (Segurança ao Crédito e Informações).
Os inadimplentes do setor de calçados representam 19% das 1.886 empresas no país com mais de 500 títulos protestados agrupadas na amostra.
O volume de protestos contra a indústria calçadista cresceu 32%, bem acima que o do comércio (15%) na primeira quinzena de maio, em comparação com igual período de 1994.
Mais de 200 fábricas do setor fecharam as portas desde janeiro passado, segundo Sebastião Burbulhan, presidente do sindicato paulista da indústria de calçados.
``Foi o primeiro setor a entrar em recessão", afirma.
Sem dinheiro em caixa e temendo contrair empréstimos por causa dos juros, algumas empresas se deixam ir a protesto para depois saldar a dívida ``sem graves acréscimos", segundo o empresário.
O governo elevou este mês, de 20% para a faixa de 47% e 63% (variando segundo o tipo de calçado), a alíquota de importação. Burbulhan diz que a medida teve ``efeito psicológico" mas ainda não se refletiu nas vendas. Menos de 20% da capacidade instalada está sendo utilizada.
No setor de varejo -supermercados, lojas de departamentos e magazines- o volume de protestos avançou 19% em um ano, em proporção que o economista Nelson Barrizzelli, consultor da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) considera alarmante.
``Mais grave é que, com juros na faixa de 10% ao mês, a inadimplência deve crescer ainda mais e as dívidas vão se tornar impagáveis", prevê. ``Nessa conjuntura, qualquer leve endividamento se torna asfixante em seis meses".
A Lojas Americanas, maior cadeia varejista do país, conseguiu reduzir em 6% o número de títulos protestados nesse período, que mesmo assim somam cerca de 13 mil, conforme apurou a Folha.
``Não há atraso de pagamento. Ocorre que operamos com 200 mil títulos mensais de 4.500 fornecedores e muitos deles fazem cobranças indevidas ou não cumprem corretamente as formalidades", afirma o presidente José Paulo Amaral.
Segundo ele, a situação é de normalidade. ``Não temos problema de caixa e de inadimplência dos clientes, já que as vendas a prazo são inferiores a 5%".
Em relação ao último trimestre do ano passado, a inadimplência aumentou 64%, segundo a pesquisa.Apenas 8% delas afirmam que lucraram mais em maio do que no mês passado.
Ao mesmo tempo, diminuem as encomendas do varejo para a indústria. 51% das empresas ouvidas reduziram suas compras.
Colaborou Fernando Paulino, da Sucursal do Rio.

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