São Paulo, sexta-feira, 26 de maio de 1995 |
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Guitarrista cego ilumina platéia na noite de abertura do festival LUIZ ANTÔNIO RYFF LUIZ ANTÔNIO RYFF; SÉRGIO TEIXEIRA JR.
A gaita de Madcat e a guitarra de Luther Allison prepararam terreno para a grande atração da noite de abertura do Nescafé & Blues, o guitarrista cego Jeff Healey. Ele não frustrou as expectativas. Impressiona assistir Healey tocando. Ele é um louro canadense com voz de crioulo do Mississippi e possui uma técnica muito peculiar. Normalmente, ele toca sentado, com a guitarra deitada sobre os joelhos e digitando as cordas com a mão esquerda como se fossem as teclas de um piano. Mas ele tocou de tudo quanto é jeito: em pé, pulando, ajoelhado, deitado. Se não bastasse o virtuosismo, Healey ainda abusou do bom humor. Brincou com a platéia e fez piada até com a própria cegueira. ``É bom ver vocês", disse rindo. O guitarrista tocou escoltado por bateria, baixo e outra guitarra, a cargo de Pat Rush -que tocou com Joe Cocker. Rush fez bons solos de slide, um tubinho de metal ou vidro que desliza pela corda. Healey mostrou que é bom nas versões. Um dos pontos altos do show foi a arrasante ``Yer Blues", dos Beatles, bem mais pesada do que a original, e com um longo solo. Healey mostrou muita rapidez na mão direita em ``Roadhouse Blues", sucesso do The Doors. E ``As the Years Go Passing by", ficou tão boa quanto a regravação de Gary Moore. Healey passou o show ouvindo pedidos para tocar ``See The Light", uma composição sua no estilo de Jimi Hendrix. Esperto, ele deixou para o final. A música começou menos pesada do que no disco, mas terminou em um solo alucinado, com Healey abusando da microfonia e pisando em cima da guitarra. No bis, as pessoas abandonaram as mesas e se acotovelaram em frente ao palco. Healey fechou a noite com mais duas versões de clássicos. Em ``While My Guitar Gently Weeps", dos Beatles, ele fez a guitarra gemer e deixou no chinelo o belo solo original de Eric Clapton. O show terminou com uma leitura ensandecida da instrumental ``Hideaway", de Freddie King. Allison A segunda atração da noite, o guitarrista norte-americano Luther Allison, agradou com aquele que não é seu estilo -o blues de Chicago- e fazendo o mesmo que Jimi Hendrix -com quem não gosta de ser comparado. O início do show foi morno, apesar da banda bem-ensaiada e do repertório de blues dançáveis. Allison abriu com ``Soul Fixin' Man". A reação do público só veio com a lenta ``Bad Love". Depois de trocar de guitarra por causa de uma corda estourada, Allison ``conversou" com o instrumento. Fazia uma pergunta, respondia com notas. Chavão dos shows de blues que funciona. Mas foi com o clássico de Elmore James ``It Hurts me Too" que Allison conquistou o público. Tocou com slide, cantou sem microfone e desceu para a platéia. Outro dos clichês que funcionam. O público foi à loucura. No bis, Allison imitou Hendrix. Começou com os acordes de ``Star's Spangled Banner", o hino nacional dos EUA. Depois, tocou a guitarra com a boca, pondo fim a uma hora e 25 minutos de show. O duo de gaita e guitarra Madcat and Kane, que abriu a noite, tentou, mas não conseguiu empolgar o público durante os 50 minutos de sua apresentação. Nas primeiras músicas, o som da gaita de Madcat, além de muito distorcido, estava mais baixo que o da guitarra de Kane. O momento alto da apresentação da dupla americana foi ``Take Five", versão do virtuose Madcat para a música que ficou conhecida com o quarteto de Dave Brubeck. Texto Anterior: Boris Belkin arruina Mozart em concerto para ser esquecido Próximo Texto: Livros interpretam sonhos e tradições Índice |
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