São Paulo, sexta-feira, 26 de maio de 1995
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A Operação Rio que falta

A blitz conjunta dos fuzileiros navais e de forças policiais, iniciada ontem no porto do Rio de Janeiro, representa um saudável avanço em relação às ações feitas até aqui no âmbito da Operação Rio. Há muito que se havia notado que apenas as esporádicas e já tradicionais batidas nos morros e favelas, seja por militares, seja por policiais, eram incapazes de atingir de modo significativo o narcotráfico e a violência.
A ocupação do porto, prevista para se encerrar hoje, visa a dar condições para que fiscais da Receita e agentes da Polícia Federal façam uma ampla vistoria nas instalações, cargas e navios e em busca de drogas e armamento ilegal.
Esse combate ao contrabando, aliás, não passa de obrigação básica da PF, cujo cumprimento já vinha sendo cobrado há tempos como essencial para que qualquer iniciativa contra narcocriminosos possa ter chance de sucesso. Afinal, as armas e entorpecentes que sustentam o poder das quadrilhas provêm de fora das fronteiras do Rio, dando ao problema um caráter nacional e mesmo internacional.
É evidente, de outro lado, que a operação no porto, por mais que represente um passo qualitativo na Operação Rio ao extrapolar o âmbito limitado da ação repressiva aos traficantes dos morros, tem em si efeitos bastante restritos. Se for uma providência só excepcional, se não se tornar praxe da PF realizar uma fiscalização rigorosa e eficiente -mesmo sem o aparato militar-, seu impacto será desprezível.
Mais ainda, um desempenho razoável na guerra contra as drogas passa também por outras medidas que o poder público, tanto estadual quanto federal, ainda está a dever. Passa, por exemplo, pela profunda e radical reestruturação das forças policiais. Passa pela chamada ``invasão de cidadania", que leve a presença do Estado para morros e favelas, tomando com serviços o lugar hoje ocupado pelos traficantes.
Nisso tudo, o papel das Forças Armadas pode no máximo ser auxiliar, e temporário. O desafio então que se impõe é tornar as estruturas realmente responsáveis pela questão -da PF à secretaria de Educação, da PM aos órgãos da Saúde-, capazes afinal de começar a cumprir suas funções.

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