São Paulo, sábado, 27 de maio de 1995
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`Rubinho'

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE

Muitos jornalistas adotam uma maneira própria de chamar, em seus textos, as pessoas envolvidas em seu meio de interesse. Acontece por capricho ou por uma questão de padronização.
Nos textos assinados por este jornalista, a palavra ``Rubinho" raramente é utilizada. E, honestamente, é um capricho.
A explicação é simples. Tentar manter um distanciamento, evitar passar uma imagem de intimidade que não existe, enfim, preciosismos egoístas que satisfazem mais a quem escreve do que a quem lê.
Mas existe uma razão a mais. A pretensiosa tentativa de dar uma maturidade subliminar a um personagem que, na vida real, parece ainda não a ter.
Barrichello (manterei o padrão), nesta temporada, passa por uma crise pessoal que qualquer jovem experimenta. E alguns, por motivos diversos, empacam.
Aquela fase chata, quando todas as decisões parecem difíceis. E se torna muito sedutor ouvir quem está ao lado. Não ajuda, mas é só dando cabeçadas que se escapa deste vício.
Barrichello pode até obter uma boa classificação hoje ou, mesmo, na corrida de amanhã. Mas seria fruto do acaso. Algo bem diferente do que aconteceu em Spa, em 94.
Como já foi dito neste espaço, naquela ocasião o piloto tomou uma decisão. E dela surgiu a primeira pole de sua carreira, um feito jamais obtido por alguém tão jovem na F-1.
Naquele dia chuvoso, Barrichello soube ser ``irresponsável", correr o risco calculado, algo que se espera de um bom piloto.
Isto não acontece mais. Não se sabe o por quê. E, para piorar, ele faz questão de procurar um motivo para não estar indo bem. Primeiro é o motor, depois o câmbio. Em Mônaco é o tráfego.
Seria mais fácil ele chegar e dizer: ``Não deu, pô! E não enche o saco". Mas é mais fácil ele vencer um GP, por obra dos deuses das pistas, do que mandar todo mundo para aquele lugar.
E essa não é uma má idéia. Sumir, escafeder. Literalmente, ficar sozinho, se virar. E mandar todo mundo em volta, jornalistas, parentes, amigos e agregados para o inferno -e basta passar pelo motorhome da Jordan para perceber que não é pouca gente.
E, como se não bastasse tanto cacique para um único índio, ainda tem o Irvine, que está longe de ser um otário.
É infâme, mas não dá para resistir: Vai Barrichello, vai ser Piquet na pista...

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