São Paulo, quarta-feira, 31 de maio de 1995
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Livro de Collor traz telefonemas gravados

Ex-presidente culpa `Operação Taiwan' pela queda

XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

O ex-presidente Fernando Collor, 46, vai utilizar no seu livro de memórias diálogos gravados em seus telefonemas com políticos e empresários.
É uma forma contundente, segundo os amigos de Collor, de desmascarar aliados que se transformaram em inimigos quando o ex-presidente amargava o impeachment, em 1992.
Para manter o suspense, Collor e os seus amigos escondem os nomes dos personagens flagrados nas conversas telefônicas.
Desde 1983, quando era prefeito de Maceió, o ``caçador de marajás" tem por hábito -ou precaução, como dizem os seus aliados- gravar algumas conversas, além de anotar trechos dos diálogos num caderno.
O livro, que ainda está sendo escrito, narra a trajetória política de Collor, com destaque para a passagem de dois anos no Palácio do Planalto (1990-1992).
As memórias devem ser lançadas no segundo semestre desse ano. A Folha obteve o primeiro capítulo do livro, que registra um encontro, em Paris, do ex-presidente com o embaixador e escritor José Guilherme Merquior, em 90.
Merquior, que morreu naquele mesmo ano, alerta Collor, na ocasião do encontro, sobre a dificuldade que ele teria para governar.
A falta de um partido forte para ampará-lo seria o principal obstáculo listado pelo embaixador.
``Presidente, fiquei muito feliz com a sua vitória. No entanto, não sei de devo parabenizá-lo ou se devo apresentar-lhe o meu pesar", disse Merquior, segundo o relato de Collor.
Um capítulo especial contará a versão do ex-presidente para a sua queda do poder. Segundo ele, a culpa foi da ``Operação Taiwan".
Um grupo de empresários desse país teria ``comprado" parlamentares para votar a favor do impeachment. Tudo devidamente combinado com o então vice-presidente Itamar Franco, interessado em virar titular do cargo.
O custo do negócio teria sido US$ 70 milhões. Em troca, os empresários ganhariam vantagens em operações de investimentos que seriam realizadas no Brasil durante o mandato de Itamar.
Collor atribui ao poder desse dinheiro a mudança de muitos votos de deputados e senadores aliados. Os parlamentares teriam passado, de última hora, para a turma pró-impeachment.
O ex-presidente reuniu uma série de testemunhas, inclusive de militares, para reforçar a sua tese.
Conta ainda que o ``dossiê" sobre a operação foi entregue ao procurador-geral da República Aristides Junqueira, atualmente afastado do cargo por motivo de doença.
Junqueira teria engavetado a papelada, sem nada ter feito para apurar o caso.

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