São Paulo, quarta-feira, 31 de maio de 1995 |
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Altman subverte as normas de Hollywood
JOSÉ GERALDO COUTO
Quando se fala de Altman, costuma-se ressaltar seu caráter de ``outsider", sua guerrilha pertinaz contra os alicerces de Hollywood. Os dois títulos em questão -sobretudo o primeiro, que tem Hollywood como tema e ambiente- não fogem à regra, mas iluminam outro aspecto essencial do cinema de Altman: sua extrema habilidade narrativa, que lhe permite fazer de seus filmes complexas tapeçarias cômico-dramáticas. Não por acaso, as obras máximas do diretor -``M.A.S.H.", ``Nashville", ``Cerimônia de Casamento"- são tramas constituídas por um sem-número de personagens e de pequenas histórias que se entrecruzam aparentemente ao acaso, mas obedecendo a um desenho narrativo preciso. Em ``O Jogador", essas historietas episódicas são como afluentes de um rio principal -a história do produtor de cinema (Tim Robbins) ameaçado de morte por um vingador anônimo. Mas são sobretudo as histórias paralelas que tornam o filme uma crítica feroz à forma de contar histórias no cinema convencional. Ao lado da tragicomédia do produtor, ``O Jogador" relata a deterioração de um projeto de filme de um roteirista ``independente". O projeto começa como obra original, sem concessões e sem atores conhecidos, e acaba, depois de sucessivas ``adaptações", como uma caricatural superprodução rotineira, repleta de estrelas. Há uma auto-ironia nisso: para viabilizar seu projeto anti-``establishment", Altman recorreu a uma plêiade de celebridades (Bruce Willis, Julia Roberts, Whoopi Goldberg etc.), além de lançar mão de muletas dramáticas tradicionais, como o par romântico, os sustos e suspenses, o final feliz (ainda que carregado de ironia). É como se Altman testasse os limites do cinema industrial, equilibrando-se na corda bamba entre a transgressão e a convenção. Em ``Short Cuts", inspirado em contos de Raymond Carver, a narrativa se pulveriza mais radicalmente: não há ``fio condutor", protagonistas, progressão, nada. Numa miríade de pequenos dramas urbanos, também o alvo da crítica se dispersa: não é mais a indústria do cinema, mas os incontáveis vícios de comportamento, fraquezas morais e deformações culturais do homem americano -e, por extensão, do mundo todo. Mais que uma crítica, é um estudo minucioso da vida urbana, por um olhar pleno de humor, ironia e, quem diria, compaixão. Vídeo: O Jogador Produção: EUA, 1992, 123 min. Elenco: Tim Robbins, Greta Scacchi Distribuição: LK-Tel (tel. 011/ 825-5766) Vídeo: Short Cuts - Cenas da Vida Produção: EUA, 1993, 188 min. Elenco: Andie MacDowell, Jack Lemmon, Tim Robbins Distribuição: PlayArte (tel. 011/ 575-6996) Texto Anterior: 2001 Vídeo tem todos os títulos Próximo Texto: Homem deve saber olhar a si mesmo Índice |
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