São Paulo, domingo, 4 de junho de 1995 |
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Criação de reserva ameaça a sobrevivência
AURELIANO BIANCARELLI
Desde 1979, quando foi criada a Reserva Biológica do Trombetas, eles vêm sendo impedidos de caçar, pescar e retirar castanha nos 400 mil hectares preservados. Uma vez criada, a reserva torna-se área de pesquisa, onde o homem não pode mais pisar. Dez anos depois, em 1989, 420 mil hectares na outra margem do rio foram transformados na Floresta Nacional Saracá-Taquera. A lei de criação dessas reservas não considerou os moradores que viviam no seu interior. Seis comunidades de negros estão dentro da reserva e da floresta. Desde então, um diálogo de surdos vem sendo travado entre os ribeirinhos e os fiscais do Ibama -órgão federal que se ocupa da preservação do meio ambiente. ``Querem nos impedir de fazer aquilo que já faziam nossos bisavós", diz Benedito Pereira de Jesus, 54, morador de Jamari. Os negros dizem que não destroem a natureza. Num só dia, uma única madeireira de Oriximiná derruba mais árvores do que os ribeirinhos em um ano, afirmam. Reforçado por um convênio com a Mineração Rio do Norte, o Ibama tenta manter uma ordem quase impossível. O chefe do Ibama na região, Alberto Guerreiro de Carvalho, 49, questiona a viabilidade das reservas. ``Como impedir um morador de retirar da mata ou do rio o seu sustento?" Outro fator de desequilíbrio para os negros é a Rio do Norte, um consórcio de empresas que desde os anos 70 retira bauxita da região. Porto Trombetas, onde moram seus funcionários, é uma cidade com nível de Primeiro Mundo. A comunidade de Boa Vista, a dez minutos de barco de Trombetas, transformou-se em aldeia-dormitório. Não tem luz elétrica nem bares. Seus moradores só têm acesso ao mundo dos brancos quando autorizados nas guaritas. (AB) Texto Anterior: Rezas unem orações em latim a ritmos africanos Próximo Texto: Constituição destaca os quilombos e quilombolas Índice |
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