São Paulo, domingo, 4 de junho de 1995
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ABC da histeria

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA - No próximo mês, deixo esta coluna. Vou morar em Nova York, onde continuo colaborando com a Folha e, apoiado pelo Unicef e pela Organização Mundial de Saúde, tento aprofundar investigação jornalística, iniciada há seis anos, sobre violência urbana e direitos humanos.
Estou, agora, em processo de sistematização da minha experiência de 12 anos em Brasília -aproveito hoje para começar a compartilhar um pouco das minhas reflexões sobre as observações do poder.
O assunto hoje são os lobbies. Aprendi, muitas vezes errando, sobre o perigo da histeria fabricada por lobbies -os grupos vulneráveis são sempre as vítimas.
A tática da histeria para sensibilizar meios de comunicação e governo é simples: inventar ou exagerar problemas que, de fato, existem. E, aí, não escapam empresários ou sindicalistas, esquerda ou direta, governo ou oposição.
Quando se lançou o Plano Cruzado, os sindicalistas esperneavam que haveria um gigantesco arrocho salarial, os empresários previam uma brutal recessão. Nada disso ocorreu, e, por falta de dureza, desperdiçou-se uma chance de acabar com a inflação. Aliás, a mesma gritaria ocorreu no lançamento do Plano Real.
Agora repetem-se lobbies à esquerda -os sindicalistas gritando histericamente que o fim da indexação será um caos. Com previsões também catastróficas, empresários querem baixar os juros na marra, despreocupados com seus efeitos nos preços e balança comercial.
O inimigo da histeria são os números. O salário real (acima da inflação) cresce, o que desmonta o argumento de sindicalistas.
Na suposição de que barulho produz verdade, o lobby empresarial anunciou o fim do mundo, devido aos juros. Curioso é que, com todo o aperto monetário, mais a greve dos petroleiros, maio, segundo a Associação Comercial, foi o melhor mês de vendas na cidade de São Paulo.
A grande revolução brasileira vai ser dinamitar os parasitas que prosperam moral e financeiramente na crise.
PS - Sempre haverá um mágico jurando que se consegue algo importante sem esforço.

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