São Paulo, terça-feira, 6 de junho de 1995
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Piva propõe mais taxas para fumo e álcool

FERNANDO RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL

Cada Estado brasileiro tem três senadores no Congresso. Tente lembrar o nome dos três senadores paulistas.
Você errou se pensou em Eduardo Suplicy (PT), Romeu Tuma (PL) e José Serra (PSDB). Suplicy e Tuma estão no Senado. Mas Serra licenciou-se para ser ministro do Planejamento. Seu suplente assumiu.
O suplente é Pedro Franco Piva, 61, um dos proprietários da Klabin, a maior empresa fabricante de papel e celulose da América Latina, com vendas estimadas em US$ 1,3 bilhão este ano.
Herdeiro dos 6.497.664 votos de José Serra, o senador Piva ficou deliberadamente calado desde a eleição. Queria, diz, ``ser aceito e reconhecido como bom senador" no Congresso ``pelos colegas".
Agora que resolveu dar sua primeira entrevista, apareceu com uma idéia para o ministro da Saúde, Adib Jatene. Quer resolver o problema da falta de verbas nessa área aumentando o imposto sobre bebidas alcoólicas e cigarros.
Já falou com Jatene e recebeu sinal verde para prosseguir seus estudos. Calcula uma arrecadação adicional de até R$ 4,5 bilhões por ano taxando o fumo e o álcool.
Pouco antes de falar à Folha , Piva foi homenageado por empresários do setor de vendas de papel e celulose. ``Estou político, mas minha casa é esta"', disse.
A ``casa" era a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), onde foi o almoço-homenagem para Piva, com a presença de 116 empresários.
Na preparação da campanha, Piva desbancou Miguel Reale Júnior, um dos cardeais do PSDB, para ser o primeiro suplente de José Serra. Nega que isso tenha ocorrido pelo fato de ser empresário e contribuir financeiramente para a eleição dos tucanos.
Filiado há um ano ao partido tucano, filosofa sobre seu sucesso: ``Acho que ajudou o fato de eu ser uma pessoa confiável do PSDB."
Em 94, a Klabin deu R$ 150 mil para o PSDB, dentro das regras eleitorais. O próprio empresário diz ter doado, como pessoa física, ``uns R$ 20 mil". Além de convidar amigos a contribuir.
Desde a sua posse, em 1º de fevereiro, Piva fez intervenções curtas no plenário do Senado. Planeja fazer sua estréia oficial amanhã. ``Deve durar uma meia hora. Os temas principais serão economia e a situação de São Paulo", diz.
A seguir, os principais trechos de entrevista concedida na última sexta-feira, quando Piva revelou que suas prioridades serão educação e saúde. E que, agora, vai se expor: ``Daqui para frente eu vou querer brilhar mais".

Folha - O sr. conversou por uma hora e meia com Pérsio Arida. Apesar de já ter pedido demissão do Banco Central, o que ele disse para o sr. sobre a política de juros?
Pedro Piva - Eu sou um crítico feroz desses juros. Mas depois da conversa de hoje, com o presidente já demissionário do Banco Central, reconheço que é muito difícil uma saída sem esses juros altos. Eu entendo as dificuldades do governo para baixar os juros.
Folha - Por que o sr. está convencido hoje que não é possível reduzir os juros já?
Piva - Porque o real é mais importante. Se voltar a inflação, não é nem o real que acaba. O que acaba é o governo.
Folha - Então não tem saída no curto prazo?
Piva - Não. Acho que há alternativas nesse meio-tempo. Para investimentos eu acho que deveria haver um juro diferenciado.
No Chile, por exemplo, se você investe (no próprio negócio) todo o seu lucro não se cobra Imposto de Renda.
Essa é uma forma de contornar a situação para que as nossas empresas possam competir com aquelas de países onde os juros não são tão altos.
Folha - Mas qual a sua sugestão para os programas sociais do governo?
Piva - Eu juntaria todos os programas. Isso baixaria o custo enormemente e não obrigaria ninguém a cobrar coisa alguma.
Eu daria um cheque para os beneficiados por um programa de renda mínima: compre o que quiser, comida, cesta básica. Acho que melhoraria muito a educação, tudo.
Folha - Como senador e pela primeira vez ocupando um cargo público, o que o sr. pretende fazer em oito anos de mandato?
Piva - Quando aceitei disputar como vice (suplente) do Serra, eu disse que meu perfil não era de vice. Meu perfil é de titular.
Eu só aceitei porque havia a perspectiva de participar, de assumir. E aí me propus então uma segunda condição: ser um dos melhores senadores do país.
Estou numa fase da vida que não posso estragar minha biografia. Estava muito bem em São Paulo com a minha vida pessoal interessante e acomodada. Mudar para Brasília é um começo de vida e tem que ser para realizar algo.
Folha - Em quais áreas o sr. pretende atuar?
Piva - Educação e saúde, para tentar ajudar no desenvolvimento do país.
Folha - Como o sr. resumiria seus planos para a educação?
Piva - Fui o primeiro -antes de o ministro da educação ter começado o programa Acorda Brasil- a falar sobre a necessidade de levar educação para toda a comunidade carente.
São Paulo, por exemplo, tem 6.000 escolas públicas. Eu vim até a Fiesp e consegui uma contribuição inicial de 200 kits com televisão, antena parabólica e videocassete para escolas paulistas.
Eu disse ao Carlos Eduardo (Moreira Ferreira, presidente da Fiesp) que nós precisávamos dar o exemplo.
Agora estamos fazendo uma campanha para arrumar para as 6.000 escolas. E vou levar essa campanha para o Brasil inteiro, para cada prefeito, cada industrial.
Folha - No Senado o sr. pretende apresentar algum projeto de lei que trate de educação?
Piva - Eu fui ao ministro da Educação perguntei o que eu poderia fazer. Mas ele me disse para que tentássemos primeiro viabilizar esse programa de educação que já estou ajudando.
Eu não estou preocupado em brilhar sozinho neste momento. Eu quero viabilizar os programas que estão aí.
Folha - E na área de saúde, quais são os seus projetos?
Piva - Eu vou lhe dar um dado estarrecedor. Há 1.500 hospitais públicos em construção no país cujas obras estão paradas. Só no Estado de São Paulo tem 350 dessas obras paralisadas. Eu vou trabalhar para resolver isso aí.
Folha - Como?
Piva - Tem que se retomar isso aí. Não daria mais um centavo para construção de projetos novos.
Além disso, para buscar os recursos, eu tenho uma idéia que devo transformar em projeto de lei: aumentar em 30% o imposto hoje cobrado sobre cigarro e bebidas alcoólicas.
Isso poderia ser uma opção para que não fosse criado mais um imposto para cobrir os gastos da saúde, como tem se aventado. Eu sou contra a criação de um novo imposto.
Folha - O imposto maior sobre fumo e bebidas seria suficiente para cobrir as necessidades da saúde?
Piva - A indústria de bebidas e cigarro fatura entre R$ 10 bilhões e R$ 15 bilhões por ano. Se eu tirar 30% disso dá R$ 4,5 bilhões por ano. Acho isso um ovo de Colombo. Eu já conversei com o ministro da Saúde, Adib Jatene.
Folha - E qual a opinião do ministro?
Piva - Ele achou muito interessante. Falei ontem (quinta-feira) com ele. Ele ficou um pouco preocupado porque acha pouco.
É lógico, ele está no papel dele e quer tudo. E tem medo que isso demore. Eu disse que seria uma coisa rápida porque todos estão de acordo.
Folha - Quando o sr. pretende formalizar a proposta?
Piva - O ministro deve ir depor na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado por volta do dia 20 deste mês. Vou apresentar formalmente nesse dia, com todos os estudos e o embasamento técnico e jurídico.
Folha - O sr. disse que não disputaria a suplência sem a perspectiva de assumir. Na época o sr. não falava muito. Como foi o entendimento para que o sr. concorresse como suplente de José Serra?
Piva - Eu não falava muito durante a campanha porque o Serra ia tão bem que eu achava que qualquer coisa poderia prejudicá-lo. Eu preferi sair um pouco do palco. Mas ajudei diariamente na campanha.
Folha - Quando foi composta a chapa, houve uma dúvida dentro do PSDB se a primeira suplência ficaria com o sr. ou com o advogado Miguel Reale Jr. No final, com a sua escolha, houve muita gente magoada?
Piva - Acho que isso é natural. Todo mundo quer ser o primeiro. Em qualquer coisa. Mas eu disputei tudo na convenção do partido.
Folha - De quem o sr. teve apoio para concorrer?
Piva - Algumas forças até heterogêneas. Um dos mais entusiastas foi o Mário Covas, que bateu o pé por me querer como primeiro suplente.
Eu consultei o presidente Fernando Henrique. Ele me disse: `Apóio inteiramente a sua participação'. Eu reuni a bancada federal do PSDB de São Paulo e acho que eles gostaram.
Folha - A Klabin contribuiu financeiramente para a campanha do PSDB no ano passado. O valor conhecido é de R$ 150 mil. Essa cifra está correta?
Piva - Está correta.
Folha - O sr. contribuiu diretamente para a campanha de José Serra?
Piva - É claro. E pedi para amigos meus que contribuíssem também, dentro da lei. Eu contribuí com pouca coisa, uns R$ 20 mil.
Folha - O fato de o sr. ser um industrial bem-sucedido facilitou a sua entrada na chapa como primeiro suplente de José Serra?
Piva - Acho que ajudou o fato de eu ser uma pessoa confiável do PSDB. Eu participei de todas as campanhas do PSDB.
Fui o único empresário que subiu no palanque do último comício do Mário Covas, em 89, quando ele já estava derrotado na campanha para a Presidência.
Folha - Mesmo depois da eleição, o sr. continuou falando pouco. Esta é sua primeira entrevista longa. Por que o sr. prefere não aparecer?
Piva - Como um elemento novo num governo tão importante e por ser iniciante em política, eu me impus primeiro a conquista dos meus colegas dentro do Congresso. Eu queria ser reconhecido como bom senador pelos colegas.
Folha - O sr. tem feito discursos regulares no Senado?
Piva - Não. O primeiro vai ser quarta-feira (amanhã). Deve durar uma meia hora. Os temas principais serão economia e a situação de São Paulo.
Folha - Sua pouca exposição na mídia faz do sr. uma pessoa praticamente desconhecida. Isso não é ruim?
Piva - Mas isso vai mudar. É natural que as pessoas não se recordem.
Folha - O sr. acha que daqui a um ano todos saberão quem é Pedro Piva?
Piva - Vão saber. Eu faço até uma aposta. Daqui para frente eu vou querer brilhar mais.

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