São Paulo, terça-feira, 6 de junho de 1995
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Rio apura mortes em transporte de detentos

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

A Secretaria da Justiça do Rio abriu ontem sindicância para investigar a circunstância das mortes de duas pessoas no transporte de presos na avenida Brasil (zona norte), no domingo de madrugada.
O secretário da Justiça, Jorge Loretti, disse ter ouvido dos policiais a versão de que eles não atiraram no grupo de jovens que tentava atravessar a avenida durante a passagem dos presos.
Os rapazes estavam numa festa junina com Adelino Louzada, 17, um dos mortos. Eles disseram que, ao iniciar a travessia da avenida, ouviram os disparos e viram que eles foram feitos pelos policiais. O comboio levava 174 presos do presídio Frei Caneca para Bangu 2.
Louzada, ferido na axila, continuou atravessando. Foi atropelado por um Monza que vinha em sentido contrário e morreu. O carro capotou e o motorista, Guilherme Nassif Filho, 29, morreu na hora.
O IML (Instituto Médico Legal) informou que os dois morreram em consequência de fratura craniana com hemorragia cerebral. Um amigo de Louzada, Fernando Alex da Silva, 17, também foi baleado.
Os principais objetivos da sindicância aberta pela secretaria de Justiça são esclarecer de onde partiram os tiros e se houve precipitação dos policiais. O secretário Loretti disse que as armas dos policiais do comboio não foram apreendidas. Ele disse que recomendará a apreensão.
O exame de comparação entre as armas e as balas que feriram os rapazes pode comprovar quem disparou os tiros. ``Os policiais dizem que não atiraram. Se não foram eles, não sei quem pode ter sido. Para isso foi aberta a sindicância", disse Loretti.
Ele afirmou que havia ``boatos", entre os detentos, de um possível resgate. Os 174 transferidos eram presos de alta periculosidade, condenados por sequestro.
O governador Marcello Alencar afirmou que pode ter havido ``despreparo da polícia". ``Podem ocorrer fatos que são mais produtos da imperícia que da imprudência, mais de culpa que de dolo."
O motorista do Monza, Guilherme Nassif Filho, foi enterrado ontem no cemitério São João Batista, em Botafogo (zona sul).
A secretaria de Justiça continuará a transferência de presos para Bangu 2, um presídio de segurança máxima, com 576 vagas, que será inaugurado este mês.

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