São Paulo, terça-feira, 6 de junho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Estrada de Fleury é mais cara de SP

ANDRÉ LOZANO
DA REPORTAGEM LOCAL

O ex-governador de São Paulo Luiz Antônio Fleury Filho iniciou a construção da rodovia mais cara do Estado em valores absolutos: a Governador Carvalho Pinto.
Avaliada em US$ 1,6 bilhão, a rodovia está em construção há cinco anos, foi inaugurada inacabada, teve um túnel interditado quatro meses após sua inauguração e está sob suspeita de superfaturamento.
A estrada liga a rodovia Ayrton Senna (antiga Trabalhadores), altura de Guararema (75 km a leste de São Paulo), a Taubaté (134 km a nordeste de São Paulo).
A população de São Paulo está pagando pela rodovia US$ 85,6 milhões a mais do que pagou pela rodovia Imigrantes (US$ 1,51 bilhão) e US$ 595,2 milhões a mais do que pagou pela rodovia dos Trabalhadores (US$ 1 bilhão).
O próprio ex-secretário da Fazenda de Fleury, Eduardo Maia, admite que o Estado ``não tinha dinheiro em caixa para continuar a obra" (leia texto ao lado).
Custo
Como o custo de uma rodovia leva em consideração soluções de engenharia diferentes -número de faixas, pistas, viadutos e túneis- a Dersa, estatal responsável pela obra, usa o índice ``custo por km de pista equivalente" para comparar o preço de estradas diferentes.
Por esse índice, o custo do km de pista da Carvalho Pinto chegará a US$ 9,7 milhões, contra US$ 9,8 milhões da Imigrantes.
Apesar de esse índice praticamente igualar o custo das duas rodovias, existe uma substancial diferença no fluxo de tráfego.
Enquanto pela Imigrantes passam cerca de 120 mil veículos por dia, a Carvalho Pinto tem movimento previsto de 15 mil veículos. Em média, esses números triplicam nos feriados prolongados.
Em outras rodovias de grande porte, como a Bandeirantes (São Paulo-Campinas) e a Trabalhadores (São Paulo-Guararema), o preço do km de pista equivalente foi menor: US$ 3,6 milhões e US$ 6,7 milhões, respectivamente.
Investigação
Segundo o presidente da Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S/A), Stanislav Feriancic, um dos principais motivos para o aumento do custo da Carvalho Pinto foram as ``inúmeras interrupções da obra causadas pela falta de dinheiro".
A Procuradoria Geral de Justiça de São Paulo e o TCE (Tribunal de Contas do Estado) investigam o suposto superfaturamento das obras (leia texto abaixo).
A estrada foi projetada em 1979, no governo Paulo Maluf, como uma continuação da Trabalhadores. Seu custo inicial foi anunciado, em 90 (gestão Fleury), como sendo de US$ 360 milhões.
Quatro anos depois, subiu para US$ 870 milhões. Hoje, chega a US$ 1,6 bilhão -344% a mais do que o previsto. Do total, Feriancic disse que US$ 700 milhões foram pagos e que restam US$ 600 milhões de dívidas com empreiteiras.
Para concluir a obra, o governo terá de desembolsar cerca de US$ 300 milhões. A Dersa negocia a redução desse valor com as empreiteiras para US$ 200 milhões.
Feriancic evita falar em preço abusivo, mas diz: ``Obra administrada desse jeito eu nunca vi".
Para o presidente da Dersa na gestão Montoro (84-87), Luiz Célio Bottura, o custo não deveria superar US$ 5 milhões por km. ``Mas o governo trabalhou com preços superestimados", disse.
Com 18 km a menos de pistas que a Carvalho Pinto, a Imigrantes tem um volume maior de ``obras de arte", expressão que na linguagem dos engenheiros indica as construções mais caras de uma estrada: os túneis e viadutos.
A Imigrantes (54,4 km) tem 11 túneis contra 6 da Carvalho Pinto (72,6 km) e 14 km de viadutos.

Texto Anterior: Crianças fazem tapete de sal em São Paulo; O NÚMERO; Unesp divulga nova espécie animal; Polícia investiga roubo em quartel; PM apreende armas em São José dos Campos
Próximo Texto: Ex-secretário quis parar obra
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.