São Paulo, sexta-feira, 9 de junho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Para Clinton, Brasil obteve tecnologia russa

CARLOS EDUARDO LINS E SILVA
DE WASHINGTON

O presidente dos EUA, Bill Clinton, enviou ao Congresso de seu país memorando secreto no qual relata que a Rússia vendeu ao Brasil tecnologia que permite a construção de mísseis balísticos.
Segundo o jornal ``The Washington Post", em sua edição de ontem, Clinton resolveu não impor sanções econômicas aos dois países, embora isso seja permitido pela legislação norte-americana.
Segundo o Departamento de Estado, a decisão de não punir Rússia e Brasil ainda é preliminar e pode ser alterada.
A embaixada do Brasil em Washington afirmou que ``o assunto está em estudo pelo governo norte-americano e, por isso, não há comentário a fazer". A embaixada da Rússia não se manifestou.
Segundo o ``Post", o governo dos EUA determinou que a venda dessa tecnologia ao Brasil viola o Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis (MTCR).
Nem Brasil nem Rússia aderiram ao MTCR. Mas a Rússia prometeu em 1992 e 1993 aos EUA que iria obedecer as determinações do acordo, após uma crise entre os dois países devido à venda de tecnologia para a Índia.
Na sua visita a Washington, em abril deste ano, o presidente FHC declarou em entrevista coletiva que seu governo se comprometeu a seguir as orientações do acordo.
Segundo o ``Post", Clinton tende a não impor sanções ao Brasil porque acredita que o país possa aderir ao MTCR ainda este ano.
Além disso, insinua o jornal, o Brasil assinou com a empresa norte-americana Raytheon contrato de US$ 1,4 bilhão para a construção do Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia) pelo qual Clinton se empenhou pessoalmente.
O contrato do Sivam foi assinado pelo Ministério da Aeronáutica, que também é responsável pelo programa espacial brasileiro, beneficiário da tecnologia negociada com a Rússia.
A tecnologia de fibra de carbono é usada para propulsionar foguetes. O Brasil não nega ter interesse em obter essa tecnologia, mas afirma que pretende usá-la apenas no programa espacial civil.
Segundo o ``Post", há no governo dos EUA temor que foguetes brasileiros possam ter ogivas militares. Isso aceleraria a corrida armamentista com a Argentina.

Texto Anterior: Acesso à Internet será regulamentado neste mês
Próximo Texto: O que é o acordo internacional
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.