São Paulo, sexta-feira, 9 de junho de 1995
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Projeto de Marta Suplicy cria divergência

DANIELA FERNANDES
ESPECAL PARA A FOLHA

O projeto da deputada federal Marta Suplicy (PT-SP), que pretende incluir na Constituição uma emenda proibindo a discriminação por ``orientação sexual", é considerado desnecessário segundo a maioria dos especialistas consultados pela Folha.
``A Constituição já proíbe, em seu artigo 5º, a discriminação por sexo, religião, convicções políticas ou filosóficas. Esta emenda é um excesso ", diz Maria Garcia, professora de Direito Constitucional da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).
Ela afirma ainda que a Carta garante o direito à livre manifestação e que as discriminações devem ser sancionadas na forma da lei.
Celso Bastos, 56, professor de Direito Constitucional da PUC-SP, diz que o projeto é ``desnecessário".
O advogado criminalista Márcio Thomaz Bastos, 59, tem opinião diferente. Ele considera o projeto um avanço na legislação.
Thomaz Bastos afirma que a emenda especificaria ainda mais a lei, passando do conceito de sexo ao de ``orientação sexual".
A discriminação por sexo é considerada crime no Brasil e, segundo Thomaz Bastos, ``em um tema como esse, quanto mais claro for o texto, melhor".
Dalmo de Abreu Dallari, 63, ex-diretor da Faculdade da Direito da USP (Universidade de São Paulo), também considera o projeto inócuo.
``Não tem sentido propor uma mudança na Constituição sobre um tema que já está contido em uma série de dispositivos".
Segundo ele, a Constituição diz que qualquer discriminação é um atentado à dignidade.
Dallari afirma ainda que o projeto de lei que viabiliza a ``união civil" entre pessoas do mesmo sexo, que também deve ser proposto pela deputada, também é inócuo.
Segundo Dallari, esse projeto não representaria qualquer alteração em relação à direitos matrimoniais ou de adoção. Ele diz que, em relação a direitos patrimoniais (para que um dos integrantes do casal tenha direito à herança), basta um contrato civil.
O projeto contra discriminação por ``orientação sexual" deverá ser apresentado na próxima semana na Câmara. O outro projeto, sobre ``união civil", deverá ser apresentado ainda neste mês.

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