São Paulo, sábado, 10 de junho de 1995
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Mais de cem deputados trocaram voto por favores

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Mais de cem deputados acertaram seus votos na reforma constitucional na base de pedidos de cargos, verbas, taxas de juros menores para os financiamentos agrícolas ou mesmo audiências com o presidente Fernando Henrique Cardoso.
O grupo -um contingente que vai de 100 a 150 dos 513 deputados- é classificado pelo comando político do governo de ``gelatina", disse ontem à Folha o subchefe da Casa Civil e ex-deputado José Abrão.
Cultura
Abrão tem uma explicação para a prática fisiológica: ``Temos trabalhado para tornar isso uma coisa secundária no relacionamento com o Congresso, mas, para alguns parlamentares, é importante culturalmente", explicou Abrão, que se ocupa da intermediação de pedidos de políticos no Planalto.
Fisiologismo é a troca de apoio político por cargos no governo ou pelo atendimento de reivindicações corporativas, que só interessam a um grupo da sociedade.
``A gama de assuntos que os políticos vêm tratar aqui é muito ampla, e sempre vêm pedidos de cargos", relatou.
O principal defeito deste grupo ``gelatina", na avaliação do Planalto, é a falta de estabilidade. ``Como maioria fiel, disposta a debater os projetos, o governo identifica cerca de 280 deputados", contabilizou o assessor.
A oposição ao governo estaria limitada, segundo o levantamento, a pouco mais de cem deputados. O perfil do Congresso é acompanhado pelo Planalto com base nas listas de votações e nos pedidos apresentados.
``Não fazemos barganha, mas perguntamos aos parlamentares contemplados com cargos: `Você está com o governo ou não?"', disse Abrão.
Segundo o subchefe da Casa Civil, depois de concluída a votação das cinco primeiras emendas constitucionais no Congresso, serão autorizadas nomeações que já tenham passado pelos critérios de seleção do governo.
``Até o começo do segundo semestre, as posições essenciais serão preenchidas", disse.
Indicações
Nos cinco primeiros meses de governo, pouco mais de 20 nomeações foram feitas acatando indicações de políticos, calculou.
O ritmo lento do Planalto no preenchimento dos quase 20 mil cargos públicos de confiança foi proposital, explicou Abrão: ``Evitou-se fazer as nomeações antes das votações para não parecer que era instrumento de barganha de voto".
Sem citar nomes, o assessor informou que muitas das nomeações de políticos foram descartadas pelo Palácio do Planalto.
O principal critério de seleção é resumido na sigla QIF (``qualificação, idoneidade e fonte"), uma adaptação do governo FHC ao tradicional QI (quem indica) para as nomeações de cargos federais.
``A fonte (no caso, o político) era boa, mas a pessoa indicada não era qualificada", explicou Abrão, admitindo que muitos políticos ``vão espernear".

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