São Paulo, quinta-feira, 15 de junho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Grupo inglês Toy Dolls traz punk rock engraçadinho ao Palace

MARCEL PLASSE
ESPECIAL PARA A FOLHA

Sete anos após uma tumultuada passagem por São Paulo, o grupo inglês Toy Dolls retorna à cidade para dois shows, terça e quarta, no Palace.
Formado em 1979, nos últimos instantes do punk rock britânico, Toy Dolls continua a fazer o tipo de humor infantil que lhe rendeu seu único ``hit" -a música ``Nellie the Elephant", em 1984.
A popularidade do grupo foi para o ralo nos anos 90, quando o rock virou trágico com o Nirvana. Mesmo assim, Toy Dolls continuou a tocar, criando para si um circuito de fato alternativo.
O líder do Toy Dolls, Michael ``Olga" Algar, 32, falou à Folha por telefone, de sua casa em Sunderland (nordeste da Inglaterra).

Folha - Toy Dolls desapareceu do noticiário musical desde que tocou no Brasil. O que fez nos últimos anos?
Michael Olga - Depois de voltar do Brasil, embarcamos em uma série de turnês pela Europa e Japão. Devemos ter lançado cinco álbuns, desde então. Mas não ganhamos uma única linha da imprensa inglesa.
Folha - Vocês tocam na Inglaterra?
Olga - A gente toca em todos os lugares do mundo, menos na Inglaterra. Não tocamos na Inglaterra desde 1984 e não pretendemos tocar nunca mais.
Folha - Por quê?
Olga - Porque não temos fã nenhum aqui. Talvez os ingleses tenham sido os únicos a perceber o quanto a banda é ruim.
Folha - Você não planeja uma volta triunfal, agora que o punk rock voltou à moda?
Olga - O punk de verdade não voltou à moda. Ele nunca passou no resto do mundo. Resistiu nos subterrâneos. Mas, na Inglaterra, as novas bandas, que querem sempre estar na moda, não sabem nada sobre espírito punk.
Folha - Você era punk em 76?
Olga - Sim, era. Embora Toy Dolls não chegasse a ser uma banda punk, a época mais importante de nossas vidas foi o punk.
Folha - O que acha de a propaganda de seus shows no Brasil dizer que Toy Dolls é ``a maior banda punk da Inglaterra"?
Olga - Devem ter entendido errado. Na verdade, somos uma das bandas mais duradouras da era punk. Começamos em 1979 e nunca paramos de tocar.
Folha - Na primeira vez que veio ao Brasil, você foi esmurrado por um ``careca" no palco. Não receia que isso se repita?
Olga - O ``careca" é o que eu lembro melhor sobre o Brasil. Mas os ``skinheads" (gangue careca associada com o neonazismo) costumavam aparecer nos anos 80. Agora, parecem ter sumido. Na última turnê, não vimos nenhum.
Folha - Você levou um susto na ocasião?
Olga - E como! Estava na minha, tocando, quando fui atingido. Só depois é que fui saber que tinha sido um ``skinhead".
Folha - Numa época em que as bandas fazem apologia à depressão, ainda há espaço para humor no rock'n'roll?
Olga - Claro que há. Uma das razões que nos levou a formar uma banda foi olhar para o lado deprimente da vida e encontrar motivação. Seria horrível se a gente só pudesse ouvir coisas tristes.

Texto Anterior: Bob Dylan ironiza seus próprios clássicos em "MTV Unplugged"
Próximo Texto: Desfile infantil escapa da afetação da cena fashion
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.