São Paulo, sexta-feira, 16 de junho de 1995
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"Jutland" é rascunho épico de "Hamlet"

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Filme: Jutland - Reinado de Ódio
Produção: Holanda/França/Grã-Bretanha/Dinamarca, 1993
Direção: Gabriel Axel
Elenco: Christian Bale, Gabriel Byrne, Helen Mirren, Brian Glover
Onde: no Espaço Banco Nacional de Cinema, sala 2, e no Estação Lumiere

O drama do príncipe Amled, da Jutlândia (na Dinamarca), seria uma entre as muitas histórias reunidas no século 12 pelo historiador dinamarquês Saxo Grammaticus em sua monumental ``Gesta Danorum", se William Shakespeare não o tivesse transformado em seu ``Hamlet", em 1600.
Mesmo que não tivesse outro mérito, ``Jutland", de Gabriel Axel (``A Festa de Babbete"), se justificaria por isso: mostrar uma espécie de matéria-prima, de ``rascunho", de uma das obras fundamentais da literatura ocidental.
No filme, como na ``Gesta", tudo é mais cru, menos metafísico, que na tragédia de Shakespeare. Nada de espectros fugidios, de monólogos filosóficos, de ambiguidades éticas. O que vale são a força física e a argúcia.
A história básica é a mesma, com nomes diferentes: o rei Harvendel é assassinado pelo irmão Fenge (Gabriel Byrne), que toma como mulher a viúva deste, Geruth (Helen Mirren). O filho de Harvendel, Amled (Christian Bale), se finge de louco para melhor tramar vingança contra o usurpador do trono e da rainha.
Apagada a complexidade psicológica e moral que Shakespeare conferiu ao personagem, o Amled de Gabriel Axel pode voltar a ser um herói épico, como em suas origens. E a tragédia volta a ser saga.
Como convém a uma narrativa desse gênero, o filme é simples, direto, quase rústico. Fotografia, figurinos, cenografia -tudo é colocado a serviço da narração e de um certo ``realismo".
A viagem de Amled à Inglaterra é um dos pontos em que o filme mais se distancia do ``Hamlet" shakespeariano. O episódio reforça as características heróicas do protagonista: ele ajuda o duque de Lindsey (Brian Cox) a vencer o vilão Caedman (Brian Glover) e casa-se com a filha do primeiro.
Como convém a uma epopéia, apesar de toda a sangreira, o final é feliz, ao contrário do de ``Hamlet", e não induz ninguém a se perguntar para que serve, afinal, a droga da vida.

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