São Paulo, domingo, 18 de junho de 1995
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Banco usa debêntures para captar dinheiro de investidor

FIDEO MIYA
DA REPORTAGEM LOCAL

Por meio das suas empresas de leasing, os bancos estão recorrendo à emissão de debêntures -títulos de dívida de longo prazo emitidos por empresas não-financeiras- para captar dinheiro de investidores.
É o que mostram os dados da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), órgão oficial que autoriza as emissões desses títulos, presidido por Thomás Tosta de Sá.
Somente em maio passado, a CVM autorizou sete emissões de debêntures no valor total de R$ 1,065 bilhão.
Esse valor representa quase metade (48%) do total de R$ 2,206 bilhões em 27 emissões de debêntures autorizadas nos cinco primeiros meses de 1995 e supera em 274% a média mensal de R$ 285 milhões registrada de janeiro a abril deste ano.
Outros 19 pedidos de emissão de debêntures, no valor total de R$ 1,952 bilhão -83% acima do que foi aprovado em maio- estavam sendo analisados pela CVM no início deste mês.
Entre as emissões de maio, destaca-se a da Unibanco Leasing, no valor de R$ 500 milhões, quase metade do total de R$ 1,1 bilhão autorizado no mês.
A diretoria do banco não respondeu aos pedidos de esclarecimentos sobre a emissão, feitos pela Folha na quarta e sexta-feira passadas.
A Dibens Leasing foi autorizada a fazer uma emissão de R$ 150 milhões em duas séries, a primeira de R$ 50 milhões e a segunda de R$ 100 milhões.
Segundo Ricardo Salvador de Almeida Lopes, diretor executivo do Banco Dibens, os papéis, com prazos de 38 meses e de 26 meses, foram vendidos a fundos de pensão e de investimentos com taxas de 19% a 20% ao ano mais a TR (Taxa Referencial de juros).
Lopes diz que os recursos estão sendo destinados a financiamentos de ônibus e caminhões por meio de operações de leasing, que foram proibidas apenas para automóveis e utilitários.
A Bozano, Simonsen Leasing foi autorizada neste mês a emitir debêntures no valor de R$ 600 milhões, com prazo de quatro anos.
Ronald Toller, diretor de mercado de capitais do Banco Bozano, Simonsen, disse que a instituição decidiu fazer a emissão por causa do interesse dos investidores institucionais (fundos de pensão e de investimentos) em títulos de longo prazo.
Operação
Segundo Toller, o banco não estruturou ainda nenhuma operação para repassar os recursos. Por isso, mantém os papéis em tesouraria, sem colocá-los no mercado.
O Bamerindus Leasing também se destaca entre os grandes emissores de debêntures neste mês de junho, com um pedido de R$ 500 milhões. A assessoria de imprensa do banco informou que o diretor responsável pela operação está de férias e seu substituto viajou para Nova York.
A Folha apurou que o principal motivo das emissões desses títulos são as medidas de restrição ao crédito bancário baixadas pelo governo para conter o consumo.
A primeira é o compulsório de 30% sobre CDBs (Certificados de Depósitos Bancários) que os bancos são obrigados a depositar no Banco Central. As debêntures estão isentas desse compulsório.
Empréstimos
Os CDBs são o principal instrumento dos bancos para captar recursos de investidores e destiná-los a empréstimos.
Na última semana de abril, o governo baixou outras duas medidas que fizeram os bancos se voltarem para as debêntures.
Primeiro, o governo fechou a porta dos ``commercial papers", títulos de dívida também emitidos por empresas não-financeiras.
Era outra alternativa que alguns bancos estavam utilizando por meio de empresas controladas para captar recursos para empréstimos e evitar o compulsório sobre CDBs.
Segundo a Folha apurou, o temor de que o governo adotasse medida semelhante com as debêntures levou alguns bancos a se antecipar, registrando os pedidos de emissão desses títulos na CVM.
Outra medida foi a criação do compulsório adicional de 60% sobre o dinheiro captado com CDBs que excedesse um limite fixado com base nos saldos da última semana de fevereiro deste ano.
Na prática, os bancos que excedessem o limite eram obrigados a recolher ao BC 90% do dinheiro captado com CDBs.
Como esta medida foi revogada no dia 7 deste mês, o diretor de um banco acha que um dos motivos para o aumento das debêntures foi eliminado.
Embora as debêntures sejam normalmente utilizados pelas empresas de leasing de instituições financeiras para captar recursos destinados a operações de arrendamento mercantil, o diretor de um banco diz que nada impede que o dinheiro seja utilizado para empréstimos.

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