São Paulo, domingo, 18 de junho de 1995
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Os ricos também se contradizem

CLÓVIS ROSSI

HALIFAX, CANADÁ - Parece haver uma insanável contradição entre os fatos e o que dizem os governantes dos países ricos.
Por partes. Parte 1: no final de abril, reuniram-se em Washington os ministros das Finanças do G-7, o clube dos sete países mais ricos do mundo. Emitiram então um comunicado em que dizem concordar em que ``os recentes movimentos (no mercado cambial) foram além dos niveis justificáveis pelas condições econômicas prevalecentes nos principais países".
Parte 2: em Halifax, na cúpula anual do G-7, voltaram a se reunir os ministros e também os seus chefes, presidentes e primeiro-ministros. Chegaram à conclusão de que continuava valendo a avaliação feita em Washington em abril.
Mas, ao mesmo tempo, insistem em que a prevenção de crises passa por ``políticas fiscais e monetárias sadias". Ou seja, por um equilíbrio nas contas públicas (ou um déficit financiável de maneira não-inflacionária) e juros compatíveis com o nível de atividade econômica (altos em caso de aquecimento e baixos em caso de risco de recessão).
Em outras palavras, o que os líderes do G-7 estão dizendo é que a principal maneira de combater crises é manter os fundamentos econômicos em ordem. Ninguém de bom senso nega a necessidade de políticas sadias. Mas daí a achar que basta vai uma enorme distância.
Tanto não basta que os próprios ministros apontaram os movimentos `àlém dos níveis justificáveis". Pior: de abril para cá, os ataques especulativos foram ainda além do que os ministros já achavam injustificável. Tanto assim que, no dia 31 de maio, os bancos centrais do mundo rico tiveram que intervir para evitar que o dólar caísse ainda mais frente o iene japonês.
E, mesmo assim, os líderes rejeitaram o que chamam de ``soluções artificiais", em referência, por exemplo, à taxação sobre o movimento com moedas além fronteiras, a chamada Tobin Tax (sugestão do economista norte-americano James Tobin, prêmio Nobel de Economia).
Não dá para entender.

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