São Paulo, domingo, 18 de junho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

o poder do sexo

PATRICIA CARTA

"Eu não quero ser uma estúpida vítima da moda"
Primeiras na moda a recuperar o glamour do fotógrafo americano Helmut Newton, as marcas italianas Blumarine e Anna Molinari mostraram este mês, em São Paulo, um desfile mais fraco do que sugere a mulher sexy e forte de seus catálogos. A estilista Rossela Tarabini, 28, adianta aqui como será seu próximo verão, critica o complexo de inferioridade das brasileiras e elogia os quadris nacionais. Também afirma que o novo glamour está nos jovens e nos brechós. E revela que a mulher poderosa e feminina das coleções é inspirada na sua "mamma": não por acaso, a estilista Anna Molinari, cabeça das duas grifes e espécie de alter ego da filha.
(Veja também a seção Moda com roupas das grifes)

Essa mistura de angelical e fatal que a sua publicidade vende não está muito longe da realidade?
Minha mãe e eu tentamos sublinhar toda a gama do poder feminino. A mulher pode mostrar ao mundo a sua força. Pode ser sexy, beijar outra mulher, ficar bonita para um homem, ou ser só divertida. Não estamos tão longe da realidade. A mulher precisa achar como ser forte, como ser uma pessoa.
E quem seria essa mulher?
Pode ser entre Ava Gardner e Sophia Loren, mas com humor. Ela quer ser sensual, mas não se leva a sério. Como minha mãe.
Fale da coleção e das últimas campanhas feitas por Helmut Newton.
Helmut Newton é sempre irônico, engraçado. Todo mundo o vê como agressivo e duro. Eu não. Para nós, ele é um homem velho e engraçado. Escolhemos Helmut porque ele está sempre procurando algo perverso, mas de uma maneira divertida.
Antes, você fotografava com Albert Watson. Por que a mudança?
Watson fotografa a mulher como um still-life. Cada foto leva três horas. Ele é muito conceitual, não se interessa pela idéia que está por trás da roupa. Helmut, ao contrário, faz um tipo de "snapshot (instantâneo). Cada foto leva cinco minutos e só. Ele logo se cansa daquilo.
E o gesto parece falso depois de cinco minutos.
Exatamente. Ele não quer alguma coisa "fake, mas vida real, sempre de forma renovada. O que é ser moderno para você?
É não se preocupar em ser só bonito. É ver tudo com certa curiosidade, como os jovens.
Você recebe influência da rua?
Só alguém muito jovem, sem muita informação sobre moda, pode usar um tailleur de uma forma nova. Garotas fazem misturas como usar Dr. Martens (uma marca de sapatos pesados) com chapéus de alta costura. O que é o máximo.
E quais seriam suas outras inspirações para criar a coleção?
Alguém que vejo em uma discoteca; um livro de Helmult Newton ou Balenciaga; um chapéu bonito do mercado das pulgas. Gostamos da mulher sexy e estamos sempre procurando esse novo glamour. Que só os jovens e os brechós podem dar.
De que moda você estaria mais próxima hoje?
Daquela feita pelos franceses, por causa do humor. Eles divertem as pessoas com seus desfiles. Os americanos ou os japoneses não são muito parecidos conosco.
Os japoneses mandaram na moda nos 80. Mais que agora, não?
Sim. Os japoneses tiveram uma influência na maneira de cortar um vestido. Mais que qualquer outra coisa, eles mudaram nossa maneira de ver a moda.
E agora, o que há de novo?
Não sei. Acho que o novo agora é misturar brechó com alta-costura, misturar tudo, rapper americano e um bonito Cristian Dior.
Então, o novo estaria no estilo e não mais em algum corte?
Exato, o mais importante agora é o estilo. É lógico que é preciso modernizar um pouco o corte. Um paletó de Cristian Dior dos anos 50 não vai ser moderno sem que você mude um pouco os ombros, a cintura.

Texto Anterior: barato legal?
Próximo Texto: o poder do sexo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.