São Paulo, segunda-feira, 19 de junho de 1995
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No Rio, técnico é degolado na cama

RITA FERNANDES
DA SUCURSAL DO RIO

Líder gay afirma que crimes como esse, envolvendo homossexuais, acontece a cada quatro dias no Brasil
O técnico Otávio Antonio de Abreu Teixeira, 53, foi assassinado com um corte na garganta na madrugada de ontem, em seu apartamento, um conjugado no bairro do Estácio, na zona norte do Rio, onde morava sozinho.
O corpo foi encontrado pelo porteiro do prédio, Francisco Pereira, às 8h. Pereira entrou no apartamento porque viu as luzes acesas e a chave do lado de fora.
``Ele era um rapaz muito respeitado por aqui, nunca tivemos problema. Ele sempre trazia rapazes diferentes, à noite", disse a síndica, Ana de Almeida.
Segundo outros moradores do prédio, Teixeira não tinha nenhum relacionamento fixo e levava frequentemente rapazes mais novos para seu apartamento.
Teixeira trabalhava na Feema (Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente). Seu assassinato apresenta circunstâncias típicas da maior parte dos crimes envolvendo homossexuais no Brasil, segundo informação de Adauto Alves, 30, organizador da Conferência Internacional de Gays e Lésbicas, que começa hoje no Rio e que pela primeira vez é realizada no Brasil (leia texto abaixo).
Adauto disse que esse tipo de crime é ``o que mais acontece no meio homossexual". ``Gays anônimos são assassinados dessa forma a cada quatro dias no país. O cara leva um garoto de programa para casa e acaba sendo roubado e assassinado", afirmou.
O crime ocorreu um dia depois do encerramento do 3º Congresso Mundial de Travestis e Liberados, realizado no Hotel Guanabara, que apresentou o Rio como a cidade com maior número registrado de assassinatos de gays e travestis.
Segundo o GGB (Grupo Gay da Bahia), foram mortos cerca de 400 homossexuais no Rio nos últimos 13 anos -38 só no ano passado.
Teixeira foi encontrado com os pés e as mãos amarradas por um cabo de conexão de televisão e, segundo a polícia, não teria oferecido resistência a seu assassino.
O irmão da vítima, José Teixeira, que foi ao local, constatou apenas a falta de um videocassete.
O prédio, que abriga 56 apartamentos em sete andares, não tem porteiro noturno. Nenhum dos vizinhos diz ter visto o morto no dia do crime.
Marilena Braga, que mora ao lado, no apartamento 703, contou que ela e a filha foram dormir às 23h30 e que não escutaram nada durante a noite.

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