São Paulo, segunda-feira, 19 de junho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Doença impede menino de quatro anos de sentir dor

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SAIRÉ (PE)

Uma doença supostamente congênita (que existe desde o nascimento) impede o menino José Emerson Araújo da Silva, 4, de sentir dor.
Ele já se cortou, quebrou pernas e um braço, queimou as mãos com brasa e nada sentiu. Seu corpo é marcado por cicatrizes.
O menino mora com os pais, no município de Sairé (a 118 km de Recife, PE).
Segundo o neurocirurgião (especialista em cirurgias no sistema nervoso) Geraldo Furtado, 40, Silva deve sofrer de indiferença congênita à dor.
A doença é de origem desconhecida, não tem cura e nem tratamento capaz de reduzir seus efeitos, segundo o médico.
``É um problema extremamente raro", afirmou Furtado. Nos últimos 20 anos, segundo ele, apenas um caso havia sido relatado em Pernambuco.
A família sobrevive com R$ 120 que João Severino da Silva, 28, pai do menino, recebe por mês trabalhando no campo.
Os pais descobriram os primeiros sintomas da doença quando a criança, com três meses de vida, tomou três injeções e não chorou.
No hospital Jesus Pequenino, na cidade vizinha de Bezerros, o pediatra Roberto Tavares, 30, confirmou a insensibilidade de José da Silva à dor.
``Cheguei a fazer uma pequena cirurgia numa ferida que ele tinha numa das pernas sem usar anestesia", afirmou o médico.
Tavares atendeu ainda o menino no hospital em outras três ocasiões, quando ele quebrou o braço direito, em 94, e cada uma das pernas, neste ano.
``As fraturas só foram descobertas por meio de radiografias", disse o pediatra. ``Ele brincava como se nada tivesse acontecido."
Apesar de não ter dor, os médicos constataram que ele sente cócegas e tem sensibilidade ao tato em todo o corpo.
Sem a sensação de dor, José da Silva tornou-se uma criança sem medo. Ao brincar, joga-se no chão sem temer eventuais contusões.
A mãe, Maria de Lurdes Araújo dos Santos, 25, disse que o menino tem ainda uma atração especial por fogo. ``Ele acende fósforos e tenta segurar a chama."
Tantos foram os acidentes que o garoto apresenta deformidades no braço, nas pernas e nas pontas dos dedos das mãos.

Texto Anterior: Parada reúne gays e lésbicas nos EUA; Vítimas de sequestro são enterradas no Rio; Carnaval atrasado atrai 1,3 mi em BH; QUINA ; SENA
Próximo Texto: Médico fará novo exame
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.