São Paulo, segunda-feira, 19 de junho de 1995
Próximo Texto | Índice

Credor evita falência de empresa

FIDEO MIYA
DA REPORTAGEM LOCAL

O grupo Ferro-Ligas, maior fabricante brasileiro de ligas de manganês -utilizadas pelas siderúrgicas na produção de aço-, foi salvo da falência por uma sofisticada operação de engenharia financeira e societária, inédita no país.
A operação envolveu a transferência do controle acionário do grupo das mãos da família Salles Leite para a estatal Companhia Vale do Rio Doce e a siderúrgica Usiminas, privatizada em 1991.
A Vale do Rio Doce é a maior fornecedora de matéria-prima do grupo Ferro-Ligas e a Usiminas um dos clientes. Cada uma ficou com 50% das ações de controle (ordinárias) do grupo.
O grupo pediu concordata em dezembro de 1993, suspendendo os pagamentos das dívidas junto a bancos e fornecedores.
Em setembro de 1994, a Companhia Paulista de Ferro-Ligas, empresa-mãe do grupo, chegou a ter sua falência decretada pelo juiz da 37ª Vara Cível de São Paulo.
A falência foi revogada em abril deste ano, quando o plano de salvamento da empresa já estava em fase adiantada.
A crise financeira do grupo, iniciada em 1990, com o bloqueio de depósitos bancários e aplicações financeiras durante o Plano Collor 1, foi agravada no Plano Real, em julho de 1994, principalmente por causa da valorização do real em relação ao dólar, que prejudicou suas exportações.
Confiança
A mudança de controle acionário restabeleceu a confiança dos 74 credores -dos quais 53 são bancos privados e oficiais-, os quais aderiram ao plano de reestruturação financeira montado pelos bancos Econômico e Graphus.
Entre os credores estão o Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e os bancos estaduais da Bahia, Minas Gerais e São Paulo (Banespa).
Com cerca de 4.500 empregados, o grupo é responsável por praticamente 80% da produção nacional de ligas de manganês e faturou US$ 182,5 milhões em 1994, dos quais US$ 90,7 milhões foram de exportações.
As dívidas acumuladas pelo grupo somam cerca de R$ 360 milhões, segundo Luiz Antonio de Souza Queiroz Ferraz Jr., diretor financeiro do grupo Ferro-Ligas.
Ele explica que o saneamento financeiro do grupo consistiu em três pontos. O primeiro foi uma injeção de R$ 35 milhões em dinheiro, feita pelos novos donos.
O segundo ponto foi a adesão de parte dos credores à proposta de conversão de créditos junto ao grupo no valor de R$ 178 milhões por ações preferenciais, sem direito a voto.
O terceiro ponto foi a renegociação com os demais credores, que aceitaram alongar o recebimento de créditos de R$ 135 milhões para um prazo de 12 anos, incluindo dois de carência, durante os quais o grupo não precisará fazer nenhum pagamento.
A operação societária para viabilizar tudo isso consistiu em aumentos de capital nas duas principais empresas do grupo, a Ferro-Ligas e a Sibra Eletrosiderúrgica Brasileira, no total de R$ 279,4 milhões.
Ambas são companhias de capital aberto, com ações negociadas em Bolsas de Valores.
A operação será concluída formalmente no próximo dia 23, quando se encerra o prazo legal para que os antigos acionistas exerçam seus direitos de subscrição nos aumentos de capital.

Próximo Texto: Cartões de crédito têm alta em maio; Empresa compra ações de laboratórios; Mille on Line atinge 150 mil inscritos
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.