São Paulo, segunda-feira, 19 de junho de 1995
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Bandeirantes da indústria

RUY MARTINS ALTENFELDER SILVA

O Estado de São Paulo concentra o maior parque industrial do continente, com cerca de 120 mil indústrias que empregam aproximadamente 2 milhões de pessoas e produzem o equivalente a US$ 80 bilhões por ano, ou 40% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.
Esse gigantismo, que confere uma grande responsabilidade ao Estado, é lembrado quando se comemora o Dia da Indústria -25 de maio, data do falecimento de Roberto Simonsen-, que deve ser, antes de tudo, uma homenagem aos pioneiros, os homens que, apoiados no idealismo e na ousadia, acreditaram poder fazer de São Paulo um centro industrial importante.
O industrialismo defendido por Roberto Simonsen, Francisco Matarazzo, Jorge Street, Horácio Lafer, José Ermírio de Moraes e outros pioneiros constituiu, rigorosamente, o início do processo de modernização da economia e da sociedade brasileiras.
O papel social do empresariado foi entendido por eles, que tinham clara noção da necessidade de se disseminar o conceito de parceria entre empregadores e empregados, como forma de conduzir a um desenvolvimento mais justo e igualitário.
Esse conceito está na origem do formidável trabalho realizado por meio do Serviço Social da Indústria (Sesi) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), responsáveis pela formação de milhões de trabalhadores, em todo o país, em mais de meio século de atividade.
O Sesi mantém a maior rede privada de ensino de primeiro grau do país, atendendo, só no Estado de São Paulo, a uma clientela superior a 150 mil pessoas, e o Senai é considerado o mais importante organismo do gênero no Terceiro Mundo, devendo colocar no mercado paulista, este ano, mais de 1 milhão de novos profissionais treinados.
As idéias que orientaram a atuação dos pioneiros continuam presentes nas entidades da indústria, que têm tido, historicamente, um papel marcante, podendo-se atribuir à sua atuação, em boa parte, o êxito da nossa industrialização e, por extensão, o esforço de modernização que abrange toda a economia.
As transformações que ocorreram no Brasil, nos últimos anos, nos planos político-institucional e econômico, repercutem, naturalmente, em todos os campos de atividade, e as entidades de classe não constituem exceção.
A reavaliação do seu papel é, no entanto, anterior ao processo recente de mudanças -e não seria exagero dizer que é anterior à consolidação da abertura política.
As entidades -as da indústria e de outros setores- há muito deixaram de ser simples veículos reivindicatórios, para se tornar instrumentos de expressão política, e é indiscutível que o seu engajamento foi, muitas vezes, decisivo para o êxito das demandas que mobilizaram a sociedade brasileira nos últimos anos.
A presença dessas representações, compreensivelmente, é mais visível no debate das questões econômicas, e a atenção com que são ouvidas, como é fácil deduzir, guarda relação com a importância dos respectivos setores.
Quanto mais forte o setor, maior a sua responsabilidade e mais presentes as exigências de maturidade política.
As representações de classe não podem, por exemplo, perder a perspectiva do peso de suas ações, avaliando corretamente as demandas em que se engajam, e que devem transcender os interesses imediatos. No caso das entidades da indústria, há uma grande preocupação em se associar as solicitações e propostas a projetos de repercussão macroeconômica.
De fato, nos últimos anos, e sobretudo no período da frustrada revisão constitucional, a atuação das representações da indústria em todo o país -a Fiesp entre elas- foi marcada por um grande esforço para diagnosticar os problemas nacionais e, a partir disso, propor a adoção de medidas em vários campos.
De propostas óbvias, como as reformas tributária e previdenciária, até aquelas politicamente mais sensíveis, como a privatização e a redefinição do papel do Estado, o conjunto desse trabalho resultou num verdadeiro projeto para o Brasil.
A frustração da revisão constitucional não elide o fato de que fizemos a nossa parte, e continuamos empenhados em fazer tudo outra vez, porque isso é parte de um compromisso com o empresariado industrial do Estado.
Hoje, afortunadamente, vivemos um rico processo de reformas constitucionais, e o que foi feito até agora mostra que existe uma nova atitude, uma postura diferente do Congresso e das forças políticas em face dessas mudanças, que são imprescindíveis.
Em qualquer circunstância, e independentemente da área de atividade, as entidades de classe têm responsabilidades para com a nação, e o seu trabalho será mais eficaz à medida que esse entendimento se generalize. Essa reflexão é sempre oportuna e necessária, sobretudo em momentos de transição como o atual, e nos mantém atentos aos compromissos dos que nos antecederam, ajudando-nos a preservar o patrimônio cujas bases eles plantaram.

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