São Paulo, segunda-feira, 19 de junho de 1995
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Devoção ao canário e a espada ingrata

MARCELO FROMER; NANDO REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Muito ouvimos falar nessa semana sobre o amor ideal que o atleta futebolista deveria manifestar para com a sua vestimenta majestosa, a campeoníssima jaqueta amarela.
Ouvimos o nosso técnico multivencedor defender em altos brados a necessidade de uma devoção obsessiva, ilimitada por parte do indivíduo convocado, em relação ao santuário que é o seu uniforme canário.
Pois bem, isso é muito lindo! Não vamos chegar ao exagero de dizer que isso é tudo, mas isso é uma grande parte.
Acontece que chega a ser surreal a exigência desse sentimental empenho, porque ele não é recíproco, nem assim poderia ser, pois uma camisa não é capaz de ter nenhum sentimento por quem a veste.
Mas já não poderíamos dizer o mesmo de quem escolhe, distribui e entrega essas camisas para aqueles que julga capaz de vesti-las.
Esse ser, essa figura com contornos de divindade (que é como se comporta o nosso atual técnico da seleção brasileira) é o responsável por fazer com que a camisa respeite o cidadão, o atleta que a preencheu ou irá preenchê-la.
Cada vez que um jogador é convocado para ostentar essa camisa, a esse mesmo jogador são imputadas uma série de responsabilidades, que serão cobradas com rigor e fatalismo.
Mas, ao atleta que assim corresponde, apresentando o seu melhor futebol, que devolve ao roupeiro sua camisa encharcada de digno suor, que nem as mãos de 30 lavadeiras retirariam dali a grandeza da alma impressa, a esse grande atleta o que tem se dado em troca? Nada, a não ser a espada da ingratidão!
Escrevemos isso para protestar, objetivamente, sobre a maneira como foi conduzida a última convocação do nosso selecionado para a disputa da Copa América, que se dará simultaneamente à disputa das finais dos nossos campeonatos regionais.
Ficaram de fora atletas que deram verdadeiramente o sangue nos gramados inverossímeis de Wembley.
Muitos dirão que Mário Jorge Lobo não tem culpa, que ele está apenas atendendo o interesse dos clubes.
O fato é que uma grande quantidade de interesses contraditórios está matando a sanidade de ambos os lados dessa simplíssima moeda que faz o futebol: os jogadores e a torcida.
Isso tudo porque, entre eles, entre os jogadores e a torcida, convive um único e prodigioso demônio, chamado ``dirigente".
Então, por isso, iniciamos uma nova campanha para que você, torcedor, aqui expresse a sua opinião sobre o dirigente do seu clube.
Um espaço para que você fale sobre aquele que deveria representar o seu legítimo interesse, mas que se tornou uma espécie de adversário pessoal. Aguardamos, assim, a sua manifestação.
Daqui por diante, passaremos a publicar o seu recado.

Cartas para esta coluna podem ser enviadas para a Editoria de Esporte, al. Barão de Limeira, 425, 4º andar, São Paulo, SP, CEP 01290-900
Marcelo Fromer e Nando Reis são músicos e integrantes da banda Titãs

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