São Paulo, segunda-feira, 19 de junho de 1995
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Olha a cabeleira do Jorge

ANTONINA LEMOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Os integrantes do grupo pernambucano Jorge Cabeleira e o Dia em que Seremos Todos Inúteis estão em São Paulo até o fim desta semana, mas não vêem a hora de voltar para Recife.
É que eles não querem perder os festejos de São João, que acontecem em Recife neste mês, por nada. ``Aqui em São Paulo não tem arraial?", perguntam.
Os dois meses longe de casa têm um motivo nobre. Dirceu, vocalista e guitarrista, Rodrigo, baixista, Beto, guitarrista e Mesel, baterista, estão lançando seu primeiro CD, pelo selo ``Chaos", da Sony Music.
Apesar da pouca idade (todos os integrantes da banda têm 19 anos, menos Mesel, que acabou de fazer 20) eles buscam inspiração em dinossauros -como Led Zeppelin- e em ``clássicos" da música nordestina. O ídolo deles é Luís Gonzaga, regravado em ``Carolina/Xote das Meninas", uma das faixas do disco.

Folha - Vocês não são da mesma geração do pessoal do ``Manguebeat"(cooperativa recifense que lançou Chico Science e Mundo Livre S.A), não é?
Dirceu -Não somos da geração deles mesmo. Somos muito mais novos. Mas todo mundo acha que a gente é ``manguebeat". É natural que as pessoas achem que qualquer banda que venha do Recife é mangue. Foram eles que botaram o nome da cidade na cena do rock. Eles abriram as portas.
Folha - Vocês falam muito da vida no sertão. O sertão é uma referência forte para vocês?
Dirceu -A inspiração para as letras vem daí mesmo. A gente é da capital, mas sempre viaja para o interior e vê a realidade do sertão.
Mesel -A diferença de Recife para São Paulo é que lá você viaja uma hora e meia e já chega no sertão, onde vê caboclo, jegue, cigarro de palha, essas coisas.
Folha - E como surgiu isso de misturar reggae com baião?
Dirceu -Tivemos esta idéia e resolvemos sair pesquisando. A primeira coisa foi Luís Gonzaga, depois veio Zé Ramalho, Alceu Valença...
Rodrigo -Quando a gente era muito novo não pensava em baião. Isso é coisa de adulto, você não vê uma criança preocupada com baião e raízes culturais. Mas essas coisas já estavam dentro da gente. Qualquer nordestino é acostumado com isso. É injetado em sua veia. Você sabe cantar ``Asa Branca" e seus pais têm dez discos do Luís Gonzaga.
Folha -Vocês gostam de coisas antigas: Luís Gonzaga, Pink Floyd, Led Zeppelin. Vocês são muito saudosistas?
Dirceu -Eu acho que os antigos eram melhores, com certeza. A qualidade do som era outra. Você não pode comparar nenhum show de hoje em dia com um show do Led.
Rodrigo- Tem muita coisa que é feita hoje que é legal e honesta. Soundgarden é legal. O Nirvana era o máximo. Todo mundo na banda adora o Nirvana.
Folha - Vocês sabiam que aqui em São Paulo o forró está na moda? Os jovens estão indo dançar Luís Gonzaga em pleno sábado...
Todos-(gritando, confusão total) Que maravilha! Onde é esse lugar? A gente quer conhecer. Eles gostam de Luís Gonzaga mesmo? Não é possível.

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