São Paulo, terça-feira, 20 de junho de 1995
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Disputa sobre cotas poderá afetar o Chile

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Chile poderá ser indiretamente afetado pela decisão brasileira de impôr cotas à importação de veículos argentinos, disse ontem em São Paulo o ministro chileno das Relações Exteriores, José Miguel Insulza.
As autopeças representam hoje o segundo item das exportações chilenas para a Argentina e uma eventual queda na produção automobilística daquele país também implicaria na diminuição do comércio bilateral entre o Chile e a Argentina.
O Chile exporta hoje para a Argentina US$ 1,5 bilhão ao ano.
Entre os produtos chilenos consumidos pelas montadoras argentinas estão caixas de câmbio e peças de transmissão.
Mas o ministro Insulza se recusou a dramatizar o litígio e disse que ele é normal no momento em que o comércio se intensifica e entram em vigor mecanismos regionais de integração.
Insulza está representando na reunião do Mercosul (Mercado Comum do Sul), em São Paulo, o presidente Eduardo Frei.
O presidente Frei ficou retido em Santiago pela crise provocada pela condenação, na Suprema Corte, do general Manuel Contreras, ex-chefe da polícia política no regime militar (1971-1990).
O ministro chileno reiterou que seu governo não deseja se tornar o quinto membro do Mercosul, mas manter com seus integrantes um relacionamento privilegiado.
Diz acreditar que as negociações que desembocarão nessa forma de relacionamento estarão concluídas até dezembro.
Tarifas
O Chile pretende suprimir os direitos aduaneiros em seu comércio com o Mercosul mas não quer adotar a Tarifa Externa Comum (TEC), que, pelo Tratado de Assunção (1991), Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai se comprometem a aplicar quando importam bens de terceiros.
Em média, a TEC deverá ficar em 14%, quando o Chile cobra para todas as suas importações uma tarifa menor, de 11%.
Não se trata, no entanto, de diferença apenas percentual. ``Há todo um quadro de estrutura do próprio comércio exterior que não poderíamos modificar", diz o ministro.
Segundo Insulza, os pontos mais delicados das negociações do Chile com o bloco estão nos produtos agrícolas.
Os produtos agrícolas chilenos concorrem em grande parte com a produção da Argentina e do Uruguai.
Em termos práticos, até julho o Chile e o Mercosul trocarão as listas de produtos que devem compor a primeira pauta bilateral e passarão a discutir assuntos não comerciais, como a integração de suas políticas energéticas.
Quanto ao Nafta (zona de livre comércio entre Estados Unidos, Canadá e México), afirmou que as negociações do Chile em busca de um regime de associação são mais lentas e que seu governo espera que elas se concluam apenas no ano que vem.

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