São Paulo, terça-feira, 20 de junho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O custo da tarifa de ônibus

ODILON GUEDES

O prefeito Paulo Maluf, segundo declarações feitas à imprensa, vem repassando para as empresas de ônibus, desde maio, R$ 0,62 por passagem. Esse aumento já foi repassado para o preço da tarifa. Isto é, o usuário paga a conta. Os empresários têm declarado que o custo da passagem é de R$ 0,75. Em nosso entender, esse custo deve ficar em torno de R$ 0,51. Vejamos por quê:
Pela auditoria feita em 1993 pela Fundação Getúlio Vargas, o custo da passagem, sem subsídios, deveria ser de US$ 0,45. Como naquela ocasião o cálculo era baseado numa planilha de custos que chegava a um resultado maior, foram sugeridas duas alternativas: aplicar um redutor de 18,76% no custo da passagem obtido na planilha ou mudar de planilha.
A opção da prefeitura foi a primeira, isto é, aplicar o redutor e cobrar US$ 0,45 de tarifa, o que foi feito de janeiro a junho de 1994.
Portanto, o último aumento devia ter sido calculado a partir de US$ 0,45.
Os trabalhadores do sistema tiveram um aumento de 30% no salário, mais 7% de produtividade. No aumento de custos, só devem ser repassados os 30% referentes ao salário, pois os 7% de produtividade não podem ser computados, porque devem ser absorvidos pelo lucro dos empresários.
Como o gasto com pessoal corresponde a 53,5% do total da planilha, aplicando 30% de aumento chegaremos a R$ 0,52 por passagem.
Ocorre que os outros itens que compõem os demais 46,5% da planilha de custos tiveram performances diferenciadas. Os pneus e as câmaras de ar, por exemplo, que correspondem a 5,41% da planilha, de acordo com pesquisa feita na Rede Zacharias, estão 37% mais baixos que na última planilha, de 21 de junho de 1994. Dessa maneira, haveria um redutor de R$ 0,009.
Já o óleo diesel e os lubrificantes, que pesam 9,3% na planilha, têm preços controlados pelo governo federal -os mesmos desde julho de 1994. Isso leva o custo da passagem para R$ 0,511.
Através de uma representação ao Ministério Público Estadual, encaminhamos todas essas informações, porque, pagando às empresas R$ 0,62 por passagem, quando arrecadava R$ 0,50, o prefeito estava transferindo mensalmente, sem justificativa, R$ 19,2 milhões dos cofres públicos para os donos das empresas. Considerando o valor real da passagem em R$ 0,511, ele deveria ter repassado R$ 1,76 milhão. A diferença dá para construir cerca de 38 creches por mês.

Texto Anterior: Goiás cobra dívidas de ICMS na Justiça
Próximo Texto: Preso o maior traficante de crack de SP
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.