São Paulo, terça-feira, 20 de junho de 1995
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Falta do produto gera troca de acusações

MARCOS CÉZARI

MARCOS CÉZARI; <UN->CRISTIANE PERINI LUCCHESI
DA REPORTAGEM LOCAL

Como explicar para a população a falta de gás de cozinha em botijões se os petroleiros voltaram ao trabalho no dia 2 deste mês, após 30 dias de greve?
O raciocínio do consumidor é que, se os petroleiros estão produzindo desde o dia 2, não pode faltar produto. As distribuidoras têm uma versão para o fato. Os petroleiros, outra.
Para as distribuidoras, o fornecimento pela Petrobrás no mesmo volume de antes da greve não é suficiente para resolver a questão.
A explicação para isso é a seguinte: o fornecimento foi prejudicado durante os 30 dias da greve e até a última sexta-feira, dia 16, ou seja, 45 dias.
Nesse período, a venda à população ficou muito abaixo do que era necessário. O resultado é que quem conseguiu comprar um botijão durante a greve agora já o colocou em uso e tem outro vazio.
Este consumidor terá o produto para mais 20 ou 25 dias. Assim, não deveria precisar comprar um botijão imediatamente. Entretanto, o medo de ficar sem o produto o leva de volta à fila.
Além disso, no inverno é maior o consumo de gás. Em média, uma pessoa consome entre 1,9 kg e 2,0 kg de gás/mês no verão; no inverno, entre 2,3 kg e 2,4 kg.
A situação só vai se normalizar, dizem as distribuidoras, quando a Petrobrás fornecer o normal (100%) e mais um ``adicional".
Este ``adicional" serviria para suprir a demanda não atendida durante a greve. Mesmo com ele, serão necessários cerca de 15 dias para a situação voltar ao normal.
Para a Federação Única dos Petroleiros, as distribuidoras estariam escondendo o produto para ajudar o governo a aprovar a emenda de quebra do monopólio do petróleo no Senado.
Segundo o coordenador da FUP, Antônio Carlos Spis, o governo e as distribuidoras agem em conjunto para colocar a população a favor da quebra do monopólio.
Ontem, a FUP encaminhou à Procuradoria Geral da República o pedido de abertura de inquérito criminal contra as distribuidoras.
``Durante a greve dos petroleiros, elas não pegaram na Petrobrás todo o gás que estava disponível. Podem ter escondido o produto para cobrar mais caro a partir de hoje", afirmou Spis.
A FUP, segundo ele, pede que as distribuidoras mostrem as notas fiscais de todas as transações comerciais realizadas durante a greve e até ontem. Também foi pedida uma diligência nos estoques.
Além disso, há solicitação para que a Petrobrás mostre quanto gás de cozinha foi repassado às distribuidoras no período.

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