São Paulo, quinta-feira, 22 de junho de 1995
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Motta prevê 20 anos de poder para tucanos

RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro das Comunicações, Sérgio Motta, aproveitou ontem a filiação do senador paranaense Osmar Dias (ex-PP) ao PSDB para anunciar que o projeto do partido do presidente Fernando Henrique Cardoso é ter poder ``por pelo menos mais 20 anos".
Provocando gargalhada dos tucanos presentes, inclusive do ministro José Serra (Planejamento), Motta afirmou que ``o PSDB não é um partido de tertúlias acadêmicas e sim um partido que tem projeto de poder".
Tertúlia é uma assembléia literária ou reunião entre amigos. Dita de maneira pejorativa, a palavra ``tertúlia" designa encontro em que assuntos são abordados superficialmente, apenas pelo prazer da discussão.
Quanto à palavra ``acadêmica", Motta responde indiretamente aos adversários dos tucanos, que afirmam que o partido congrega intelectuais sem experiência de poder, a começar pelo próprio presidente da República, que é sociólogo.
Estratégia
O ministro disse que o PSDB está em campanha para obter mais adesões com o objetivo de sair vitorioso nas eleições municipais de 96 e nas eleições estaduais e para presidente da República, em 98.
Para o ministro das Comunicações, ``o PSDB tem de ser a força hegemônica" durante a implementação das reformas.
Motta disse que o processo de estabilização da economia, iniciado pelo governo FHC, será ``longo e social-democrata", numa referência à doutrina oficialmente defendida pelo PSDB, que prevê uma forte interferência do Estado como regulador da economia e promotor do bem-estar social por meio de investimentos em áreas como saúde, educação e direitos do trabalho.
Mais uma vez, o ministro respondia a adversários, que acusam o governo de ter um perfil neoliberal, voltado apenas para a liberdade de mercado, sem as chamadas políticas compensatórias, de auxílio aos mais pobres.
Crise no Paraná
O presidente do PSDB, senador Arthur da Távola (RJ), disse que a filiação de Osmar Dias faz parte da política que o partido está desenvolvendo para crescer.
``O PSDB precisa de uma expansão que corresponda ao fato de ser o partido do presidente da República", afirmou.
A adesão do senador e seu irmão, o ex-governador do Paraná Álvaro Dias, ex-presidente do PP, provocou uma crise no PSDB do Paraná.
O ex-deputado Euclides Scalco liderou oposição ao ingresso do grupo de Álvaro Dias, que foi articulada pelo presidente do Diretório Estadual, Hélio Duque.
Houve eleição entre os integrantes do diretório, e a corrente que defendia as adesões venceu por 36 votos a 25. ``Vimos em você um tucano já pronto, com pena, asas e tudo o mais", disse o líder do PSDB no Senado, Sérgio Machado (CE), a Osmar Dias.
Com sua filiação, o número de senadores do PSDB sobe para 12. O partido tem a terceira maior bancada no Senado (o PMDB tem 23 senadores e o PFL 21).
Outro senador do PP está na mira dos tucanos. José Roberto Arruda (DF), que deve ser a próxima adesão, apesar de também haver resistências no PSDB do DF.
A chegada de Serra provocou mais risos. Motta estava discursando e, ao ver o colega do Planejamento, afirmou que falava pelos dois. ``Por mim, não", reagiu Serra. ``Mas eu só estou falando bem", respondeu Motta, que é conhecido como ``trator", pelos atritos que provoca.
Quando um representante da Juventude do PSDB chamou o presidente do Diretório Regional do Paraná, Hélio Duque, de ``trator", Motta disse: ``Abri uma fábrica de tratores no partido. Estamos até distribuindo."

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