São Paulo, quinta-feira, 22 de junho de 1995
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Corinthians apostou no talento para vencer a Copa do Brasil

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Quando a bola começou a rolar no Olímpico, o roteiro já estava escrito e ela, obediente protagonista, apenas fez segui-lo, linha por linha.
O Grêmio, como um daqueles corpulentos lutadores de sumô, debruçou-se sobre o Corinthians, tentando sufocá-lo com seu abraço desajeitado.
E teve êxito, pois o Corinthians, tenso, aerofágico, mal conseguia coordenar dois passes seguidos.
O jogo, visto de cima, era o confronto de duas massas informes: a azul atacava, a branca repelia os ataques com chutões ao léu.
E quando raras vezes caía aos pés de Souza, rascunhava-se um lance de engenho e técnica, rasgado no ato por um pontapé, um empurrão, uma gravata ou um trompaço inimigo. Era falta aqui, falta ali, o juiz em cima marcando tudo e distribuindo cartões amarelos como senhas em fila de espera.
O Grêmio, pela habilidade exígua da maioria de seus jogadores, limitava-se a alçar bolas na área, na vã esperança de que o gigante Jardel acertasse uma daquelas cabeçadas mortíferas que são sua marca registrada.
Mas o Corinthians estava cansado de saber disso e postou ali Célio Silva, Henrique, André Santos e Bernardo, que permitiram, no primeiro tempo, apenas uma chance a Jardel, conjurada por Ronaldo.
Difícil, para Ronaldo, foi buscar com uma só mão uma espetada de Paulo Nunes. Foi a segunda das únicas boas chances criadas pelo Grêmio, ambas nos pés de Paulo Nunes.
Quanto ao Corinthians, nem pensar: a única ousadia foi uma escapada de Silvinho pela esquerda, bola cruzada e Viola vacilando na área. Aliás, Viola e Marcelinho, as estrelas corintianas, eram exatamente as ausências do primeiro tempo.
Mas estrela é estrela, e elas haveriam de brilhar no segundo tempo, quando Viola encorpou-se no meio-campo, armando jogadas de ataque, sobretudo em estocadas de Marques pela esquerda. Por ali, o Corinthians rompeu o cerco gremista e inoculou no espírito do inimigo a suspeita de que o pior estava para acontecer.
Por três vezes seguidas, a partir de Marques pela esquerda, Viola e Marcelinho mantêm em suspenso a agonia tricolor.
Na quarta, porém, Marcelinho foi fatal, aproveitando o contragolpe de Marques, a bola cruzada na área, o corta-luz de Viola e o gol do título.
O desenho do jogo estava traçado, principalmente depois da entrada de Alexandre, um canhoto habilidoso e ofensivo no lugar de Dinho. Foi o suficiente para que o Grêmio aliviasse um pouco a marcação de meio-campo, o que permitiu ao Corinthians impor sua técnica mais apurada naquele setor.
A seguir assim, a vitória se insinuava ainda mais folgada.
Aconteceu, porém, o inevitável: o descontrole do Grêmio, a confusão, expulsões, um idiota em campo tentando agredir o juiz e a paralisação que cortou o barato corintiano. Por fim, a saída de Marques, substituído por Tupã, o que escamoteou do seu time a jogada mais aguda de contragolpe.
Por isso, até o fim, foi apenas uma angustiada espera. A espera de que se fizesse justiça ao melhor time, aquele que possui o maior número de talentos e que não se acovardou diante das circunstâncias.
Mesmo precisando de apenas um empate, negou-se a exceder-se na proteção de sua zaga.
Bem que o Corinthians poderia entrar em campo com Ezequiel, Bernardo, Zé Elias e Marcelinho Souza. Não o fez.
Apostou no talento. E ganhou. Mais: chutou pra longe o espectro de velhos e superados slogans importados dos fundões da América que falam em time copero, macho e quetais.
Velho por velho, prefiro o velho e bem brasileiro chavão com que o Juarez Soares encerrou o comentário no SBT: futebol não é força, é jeito.

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