São Paulo, segunda-feira, 26 de junho de 1995
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23% da elite gay não usa camisinha

MAURICIO STYCER
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Pesquisa realizada pelo Datafolha entre 410 participantes brasileiros da 17ª Conferência da Ilga (Associação Internacional de Lésbicas e Gays) constatou que 23% dos entrevistados não usaram camisinha em nenhuma das relações sexuais que mantiveram nos últimos 30 dias.
Segundo o Datafolha, descontando os que não tiveram relações sexuais nesse período (22% da amostra) e as mulheres que não tiveram relação com o sexo oposto, isso significa que 36% dos que mantiveram relações sexuais envolvendo algum tipo de risco não usaram preservativos.
``Isso é um horror", disse, ao tomar conhecimento dos números, o militante gay Raimundo Pereira, diretor do grupo carioca Atobá.
``E olha que a maioria das pessoas entrevistadas para essa pesquisa está bem informada. É um mau exemplo", disse Toni Reis, presidente do grupo gay Dignidade, de Curitiba.
O militante reconhece que os entrevistados, todos participantes de uma conferência internacional, formam uma espécie de elite entre os homossexuais.
Já Luiz Mott, presidente do Grupo Gay da Bahia, não concorda que um militante gay manter relações sem camisinha seja sinônimo de mau exemplo: ``Não transo com camisinha porque sou soronegativo e monogâmico. Acho que esse dado da pesquisa deve ser relativizado".
A pesquisa revelou que 43% dos homossexuais nunca falaram abertamente com seus familiares sobre a sua orientação sexual.
``É triste ver que o gay militante está enrustido", lamenta Mott. ``Isso só reforça o jogo hipócrita, muito ao gosto da sociedade brasileiro, de `eu finjo que não sou e você finge que não sabe que eu sou'. Uma pena", diz.
``É muito difícil chegar e falar: `Mãe, eu sou gay'. Se, entre os militantes, 43% não se assumiram, entre os homossexuais, de uma maneira geral, acho que mais de 95% ainda não se assumiram", diz Toni Reis. Veja a seguir outros dados da pesquisa:
71% dos gays e 67% das lésbicas já falaram de sua orientação sexual com colegas de trabalho e 87% dos gays e 80% das lésbicas já falaram sobre isso com amigos.
42% dos gays e 43% das lésbicas afirmam que já se sentiram prejudicados no trabalho por causa da orientação sexual.
48% dos gays e 21% das lésbicas diminuíram o número de parceiros sexuais por causa da Aids.
25% dos homossexuais masculinos se incomodam de ser chamados de gay, 63% não gostam de ser chamados de bicha e 67% se incomodam quando são chamados de veado.
77% dos gays tiveram sua iniciação sexual com outros homens; 45% das lésbicas entrevistadas se iniciaram sexualmente com outras mulheres.

A direção do Datafolha é dos sociólogos Antonio Manuel Teixeira Mendes e Gustavo Venturi, tendo como assistentes Mauro Francisco Paulino e Renata Nunes César. A direção comercial é de Eneida Nogueira e Silva. A coordenação da pesquisa e a análise dos resultados estiveram a cargo de Alessandro Janoni.

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