São Paulo, segunda-feira, 26 de junho de 1995
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UNE tem novo presidente do PC do B

CYNARA MENEZES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois do PT (Partido dos Trabalhadores) ``light", chegou a vez do PC do B (Partido Comunista do Brasil) ``light" -se isso é possível.
O novo presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), Orlando Silva Junior, 24, quer mostrar que seu partido não é atrasado como dizem. O PC do B é criticado por suas idéias, que seguem os preceitos comunistas, da extinta União Soviética, na época pré-Gorbachev.
Seus militantes também são acusados de se preocupar mais com questões políticas do que com a educação e os problemas cotidianos dos estudantes.
Orlando é contra a privatização do ensino, mas critica a greve dos professores. É socialista, mas deixou o stalinismo (influência do ditador soviético Josef Stálin).
Até a maconha, ``alienante" para o ``antigo" PC do B, é defendida pelo baiano de Salvador e estudante de direito, eleito no 44º Congresso da UNE, que aconteceu há duas semanas em Brasília.
Folha - Qual sua principal meta como presidente da UNE?
Orlando Junior - Aumentar a relação direta da UNE com os estudantes e o número de centros e diretórios acadêmicos. Tudo isso, com grandes mobilizações contra o governo, porque discordamos das propostas para a educação.
Folha - O que você pretende fazer na área cultural?
Orlando - Nós vamos realizar o 3º Festival de Cultura e Artes da UNE, um espaço para a produção que está rolando nas universidades. O CPC (Centro de Cultura Popular) da UNE foi importante, mas o mundo mudou. Não dá para reeditar. Queremos criar coisas de acordo com nosso tempo.
Folha - Você fala que o mundo mudou, mas é ligado ao PC do B. No mundo de hoje ainda cabe o comunismo?
Orlando - A idéia do socialismo é nova, o capitalismo é que é antigo, levou séculos para se consolidar. O Leste Europeu retrocedeu para o capitalismo, mas continuo acreditando no socialismo.
Folha - Você é stalinista?
Orlando - Sou socialista.
Folha - Uma das decisões do congresso da UNE foi a luta pelos monopólios. Isso não contraria a nova ordem mundial?
Orlando - Essa ordem é uma desordem. Em todos os países a tônica é o desemprego, a miséria. Crescem ondas nacionalistas atrasadas, a África está fora do mapa. Contra essa nova ordem eu me insubordino.
Folha - Existe algum modelo de governo que você admire?
Orlando - Sou simpático a Cuba. Lá, o governo dá atenção à saúde, à educação. Não há analfabetos.
Folha - Mas não há democracia.
Orlando - Não sei, porque nunca fui lá. Mas a informação que tenho é que o povo apóia Fidel Castro.
Folha - Então por que tanta gente está indo embora?
Orlando - Qual a população de Cuba e quantos foram embora? Tenho minhas dúvidas.
Folha - Você é a favor da descriminação da maconha?
Orlando - Sou. Acho um absurdo a polícia ficar se preocupando em prender uma pessoa que está fumando um baseado. O governo devia se preocupar em combater o narcotráfico. Pode até orientar, mas deixa o cara fumar tranquilo.
Folha - Você já fumou?
Orlando - Não, mas foi falta de oportunidade.
Folha - A UNE vai lutar pela descriminação?
Orlando - A UNE tem muitas coisas para tocar adiante. Chamados a nos posicionar, diremos nossa posição.
Folha - Como negro, o que você acha dessa polêmica em torno da homossexualidade de Zumbi dos Palmares?
Orlando - Ele vai continuar sendo um herói dos negros brasileiros, não importa sua orientação sexual. É lamentável que quem é negro e sofre preconceito por isso tenha preconceito com quem tem uma visão sobre sexualidade diferente.

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