São Paulo, segunda-feira, 26 de junho de 1995
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Uma biografia em perigo

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA - A imagem de um Barbosa Lima Sobrinho menino é tão remota quanto a de um Antônio Ermírio de Moraes com dificuldades financeiras. No frescor de seus 98, o presidente da ABI (Associação Brasileira de Imprensa) parece ter nascido de calça e suspensórios. É um respeitável nato.
Durante os anos de chumbo, Barbosa Lima foi convocado a depor em três inquéritos militares. Todos contra jornalistas, acusados de subversão. Defendeu-os como pôde. Era, na ocasião, porta-voz da razão.
Agora, é a Polícia Federal (PF) que analisa a hipótese de tomar o seu depoimento. O processo é novamente contra jornalistas. Se convocado, Barbosa Lima adotará, como no passado, a linha da defesa.
A PF tenta apurar a existência de fraude na concessão de aposentadorias especiais a uma penca de jornalistas. Há suspeita de falsificação de documentos, ainda pendente de provas. Mas não há dúvida quanto à imoralidade do caso.
Mais de 50 jornalistas pleitearam polpudas pensões vitalícias ao Estado. Alegam que foram prejudicados pelo regime de 64. Do total, 34 já estão aboletados na folha de pagamento da Previdência. Outros tantos aguardam na fila.
A maioria dos jornalistas envolvidos jamais foi prejudicada ou teve sua carreira interrompida pelos governos de farda. Ou seja, não tem direito a qualquer pensão.
Reivindica-se, em português claro, uma indefensável mamata. Questionado a respeito, Barbosa Lima disse, há dias, que o processo é parte de uma estratégia do governo para tentar ``desviar a atenção do Brasil sobre a venda das estatais".
O argumento não faz justiça ao histórico de quem o pronunciou. Como jornalista, gostaria que o presidente da ABI, signatário do processo que resultou no afastamento de Collor, respeitasse tanto a sua biografia quanto o Brasil a respeita.

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