São Paulo, terça-feira, 27 de junho de 1995
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Veto aos Paralamas é criticado na Câmara

DANIEL BRAMATTI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O deputado João Paulo Cunha (PT-SP) e o líder do PMDB na Câmara, Michel Temer (SP), criticaram ontem a decisão da Procuradoria Geral da Casa de solicitar a censura da música ``Luiz Inácio (300 Picaretas)", que deveria ter sido apresentada pela banda Paralamas do Sucesso em show na última sexta-feira, em Brasília.
O protesto de Cunha não ficou apenas em declarações. O deputado petista leu na tribuna da Câmara a letra proibida.
Apenas três parlamentares presenciaram o discurso e ouviram a letra -proibida aos cerca de 6.000 espectadores do show.
A canção dos Paralamas diz que o presidente do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, refletiu o ``sentimento da nação" ao afirmar que havia ``300 picaretas no Congresso". A frase foi dita por Lula em 93, ao comentar o desempenho dos congressistas no cumprimento de suas obrigações legislativas.
Carapuça
``Eu não me senti ofendido. O chapéu e a carapuça cabem na cabeça de quem concorda com a crítica", afirmou Cunha. ``O que o artista fez foi retratar a imagem que o povo tem do Congresso".
Para o deputado, o procurador-geral da Câmara, Bonifácio de Andrada (PTB-MG), promoveu a ``volta precipitada da censura" ao pedir à Justiça o veto da música.
A atitude também foi criticada pelo líder do PMDB na Câmara, Michel Temer (SP). ``Acho válido um protesto da Câmara, mas proibir a música é precipitação. O próprio trabalho dos deputados fará com que o protesto caia no vazio", disse Temer.
Já o líder do PFL, Inocêncio Oliveira (PE), discorda. ``Não conheço a letra, mas se há ofensas e deboche, então a medida judicial foi uma resposta válida", disse. Inocêncio presidia a Câmara à época da declaração de Lula.
Para o pefelista, a liberdade de expressão deve ser respeitada, mas ``o mais sagrado direito é o direito à honra".
Apesar de considerar justificável a proibição, ele manifestou dúvidas quanto à eficácia da medida: ``O fruto proibido é o que mais se divulga", afirmou.
O deputado Bonifácio de Andrada foi procurado pela Folha em sua casa, em Belo Horizonte, mas não retornou as ligações até o fechamento desta edição.

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