São Paulo, quinta-feira, 29 de junho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Saúde reintegra aidético em escola

ABNOR GONDIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Ministério da Saúde reintegrou ontem L.S., 12, em uma escola pública na Asa Norte de Brasília. Ele fora afastado da escola havia duas semanas por ser portador do vírus da Aids (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida).
A reintegração do aluno foi conseguida por intermédio de funcionários do Programa Nacional de DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis) e Aids.
Eles foram avisados pela mãe adotiva da criança, V.S., 32, e discutiram o problema com a Secretaria da Saúde e a Fundação Educacional do DF (Distrito Federal).
Depois de uma semana de reuniões, o Ministério da Saúde convenceu a direção da escola que o menino, apesar portar o vírus, não oferece risco aos demais alunos.
Segundo o subcoordenador do Programa Nacional de DST e Aids, Pedro Chequer, foi a mãe do menino quem tomou a iniciativa de comunicar a discriminação. A direção da escola disse que foi seu o pedido de ajuda ao ministério.
V.S. pediu à Folha para não ser identificada com medo de que o filho sofra nova discriminação.
Ela havia revelado à direção da escola que L.S. era portador da Aids ao confirmar a matrícula do filho, na manhã do dia 16 de maio.
Ao preencher a ficha de matrícula, V.S. parou antes de responder à última questão, que perguntava se o aluno tinha alguma doença.
``Para não ser omissa, eu contei a uma assistente da diretora que ele era soropositivo para Aids (tem o vírus, mas ainda não desenvolveu a doença) e fui embora tranquila", disse a mãe.
No mesmo dia, à tarde, segundo V.S., a diretora da escola telefonou para a sua casa. ``Ela disse educadamente que meu filho teria que sair da escola porque precisava de um acompanhamento especial", afirmou.
A diretora da escola, que se identificou apenas como Margareth, negou à Folha que tenha impedido L.S. de estudar. ``Ele faltou esse tempo todo porque quis".
A diretora disse que só revelaria o sobrenome por temer não ser compreendida ao ``tomar cautela no caso da matrícula de L.S.".
``Eu disse apenas à mãe que ele precisava de um acompanhamento especial e que eu e a professora dele não sabíamos como lidar como um estudante portador de Aids", disse. Isso foi superado, segundo a diretora, com esclarecimento de técnicos do ministério.
A diretora disse que nunca recebeu informação ou treinamento sobre como lidar com soropositivos para Aids. A assistente técnica do DST, Eliana dos Santos, discorda.
``Todas as escolas do país receberam cartilhas sobre como lidar com a Aids. Esse caso pode ser explicado pela diferença que existe entre o que você sabe e o que você acredita", disse Eliana.
A diretora afirmou desconhecer a portaria dos ministérios da Saúde e da Educação, de 92, contra qualquer discriminação a portadores de Aids nas escolas. Em 92, houve em São Paulo caso semelhante ao de L.S. (leia texto abaixo).
A portaria proíbe exame anti-Aids nas escolas e desobriga os ``indivíduos sorologicamente positivos, sejam alunos, professores ou funcionários" a ``informar sobre sua condição à direção da escola, a funcionários e a qualquer membro da comunidade escolar".

Texto Anterior: Deputado paga R$ 5 por moeda falsa de real; O NÚMERO; Unesp informatiza acervo de bibliotecas; Tiroteio em túnel causa pânico e fere 1 no Rio; Meningite causa morte de menino em Mauá
Próximo Texto: Ministério faz orientação
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.