São Paulo, sexta-feira, 30 de junho de 1995
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Leia a íntegra do pronunciamento de FHC

Esta é a íntegra do pronunciamento do presidente Fernando Henrique Cardoso veiculado ontem:

``Você se lembra destas imagens? Você se lembra desses anos em que o Brasil parecia não ter mais jeito? Você, dona-de-casa, se recorda de que, a cada vez que ia ao supermercado, os preços haviam dobrado? Você, que recebe seu salário, se lembra de que no meio do mês seu dinheiro não valia mais nada? Ou você, que tinha juntado um dinheiro para uma despesa, já se esqueceu de que tinha que correr atrás dos bancos para aplicar logo esse dinheiro -porque, do contrário, ele perdia seu valor?
Pois bem, tudo isso acabou e nós não vamos deixar voltar. No dia 1.º de julho, o real faz um ano. Este deve ser um momento de reflexão. Ainda não de festa, porque ainda temos muito o que fazer. Mas não podemos deixar de reconhecer que nesses últimos 12 meses o país mudou. Quando o real foi lançado, muitos achavam que ele não iria durar. Ia ser como muitas moedas que acabamos de ver. Mas eles se enganaram. Um ano depois, o real continua a valer mais do que o dólar. Enquanto muitas moedas eram abaladas pela crise do México, o real resistiu e continua firme. Os preços se estabilizaram. É verdade que alguns ainda estão subindo, mas muitos preços ficaram estáveis. Os da cesta básica, que são os alimentos mais importantes para a população, estão mais baixos do que um ano atrás. Isso quer dizer que hoje as pessoas podem se alimentar melhor. Comprar mais arroz, feijão, milho, frango, carne, porque todos esses produtos estão mais baratos.
E os salários? Eles ganharam duas vezes. Primeiro, porque o dinheiro que você recebe não perde mais o seu valor ao longo do mês. Segundo, porque com a estabilidade eu pude dar um aumento importante para o salário mínimo, um aumento de 40%, inclusive para os aposentados. E o salário real nas regiões metropolitanas subiu mais de 20%. Eu sei que ainda é pouco, mas é o primeiro passo para recuperar o salário do trabalhador. Tudo isso não são mais promessas. Isso é uma realidade que todos nós conquistamos.
O real não é obra de uma pessoa, de um partido, de um governo; ele é uma conquista de todos os brasileiros. Na campanha, eu disse à população que o real era só o começo. A queda da inflação era indispensável, mas não bastava. Nós precisávamos criar as condições para investir, gerar mais empregos e voltar a crescer. Por isso, tínhamos que fazer as reformas: a da ordem econômica, a tributária, a do Estado. Tínhamos que concentrar nossos esforços naquilo que é mais importante para a população: emprego, saúde, educação, agricultura e segurança, as cinco prioridades do meu governo. O que eu prometi nós estamos fazendo.
Primeiro, o real -de janeiro a junho deste ano a inflação foi de 10%. Você se lembra? Dez por cento era a inflação de uma semana. Há alguns meses, a inflação ameaçou subir. Nós não deixamos. O governo reduziu um pouco o crédito e aumentou a taxa de juros. São medidas que eu tive que tomar; elas eram necessárias e atingiram o seu objetivo. A inflação baixou de novo.
Nos últimos 12 meses, nós conseguimos baixar a inflação e crescer ao mesmo tempo. Em 94, nós crescemos 5,5%. Este ano, vamos crescer por volta de 6%. Com isso, o número de empregos aumentou. Só nas principais regiões metropolitanas, foram criados 500 mil empregos.
Como eu tinha prometido, enviamos ao Congresso a primeira parte das reformas constitucionais. Por que elas são tão importantes? Porque flexibilizar monopólio e mudar o conceito de empresa nacional significa trazer novos investimentos e criar mais empregos.
O emprego hoje é a minha grande preocupação. Eu quero preservar o emprego dos que trabalham e criar novos empregos para os jovens que chegam ao mercado de trabalho.
O Congresso recentemente eleito soube expressar com vigor e rapidez a vontade de mudança que existe no país. A ele, às presidências da Câmara e do Senado e aos líderes registro aqui os meus agradecimentos. Hoje, o governo e o Congresso estão trabalhando juntos para aprovar as reformas de que o país necessita.
No segundo semestre, nós já vamos começar a sentir o efeito dessas reformas. Os investimentos estrangeiros estão voltando para o Brasil, para ampliar as fábricas aqui existentes ou para criar novas fábricas, e os nacionais também.
E nós estamos cumprindo nossas promessas na área social. Lançamos um importante programa de educação -``Acorda Brasil"- para treinar as professoras e professores. Se nós quisermos melhorar as nossas crianças, teremos de qualificar e valorizar o professor.
Na área de saúde, as contas dos hospitais estão em dia. Estamos fazendo um grande esforço para reduzir pela metade a mortalidade infantil.
Em poucos meses, demos um impulso importante na reforma agrária. Desapropriamos 1 milhão de hectares de terra.
Começamos também um novo programa de financiamento para a moradia popular.
O Programa Comunidade Solidária está lutando para que o leite, a merenda escolar, os livros, o material escolar, as vacinas e a assistência médica cheguem mais rápido e sem clientelismo às populações mais carentes. Tudo isso é muito importante, mas, como eu já disse, isso é apenas um começo.
Veja a inflação; nós vamos ficar atentos para ela não voltar. O governo está controlando seus gastos e amanhã adotará as medidas para ampliar a desindexação da economia.
O governo está cumprindo a sua parte e você pode ajudar, e muito. É preciso vigiar os preços, sobretudo os dos serviços, onde está havendo abuso. Mais uma vez, eu repito: compre só o necessário. se informe sobre o preço dos concorrentes, pechinche, evite os crediários, denuncie os abusos. Na última vez, eu sugeri que vocês denunciassem os abusos aos Procons, que são os órgãos que protegem o consumidor. Recebi cartas, então, dizendo que alguns Procons não estão funcionando bem. Em alguns casos, isso é verdade; por isso nós precisamos apoiar os Procons. Há Estados e prefeituras importantes que ainda não têm Procon. É preciso criar. Peça ao prefeito e ao governador que crie esses órgãos, porque eles são a sua defesa. Eu já mandei a Sunab orientar as prefeituras sobre como fazer a pesquisa de preços e divulgar aos consumidores. Acompanhe a lista de preços preparada pela Sunab e publicada pela imprensa. O governo e os consumidores, juntos, têm condições de derrotar os empresários que ainda abusam dos preços.
Mas nós temos ainda uma outra tarefa urgente: precisamos conseguir que a inflação baixe ainda mais sem uma taxa de juros tão alta. Para muitas pessoas e empresas, a taxa de juros nos níveis atuais está sendo um desastre. Por isso, o governo já está tomando medidas para reduzir as taxas e elas já estão caindo, mas em alguns setores o problema ainda é muito sério.
A agricultura, que tomou empréstimo com a TR, está numa situação difícil; por isso, eu aprovei novas regras para o financiamento da safra. Agora, os empréstimos para os pequenos e médios agricultores não vão mais ser corrigidos pela TR.
Além disso, anunciaremos amanhã uma redução da TR para os que estão endividados. São medidas importantes em apoio ao homem do campo, de um reconhecimento da sociedade pela contribuição que a agricultura deu ao real.
Como você vê, nós temos muitas tarefas pela frente. Tem muita gente no Brasil que precisa de alimentos, de moradia, boa educação, de atendimento de saúde para os seus filhos; mas agora que os preços se estabilizaram, o governo pode planejar e gastar melhor o seu dinheiro no que a população necessita. Só não podemos esperar que tudo seja resolvido de um dia para o outro, porque isso não é possível.
O importante é que agora nós temos um rumo. Nós sabemos que ainda temos muito que fazer para consolidar a economia, para reduzir as injustiças sociais, que são muitas. Mas nós estamos consertando o que está errado. Estamos enfrentando as dificuldades. Estamos trabalhando junto com o Congresso, com a sociedade e com o povo para resolver os nossos problemas e dar melhores condições de vida para os brasileiros.
Esta é a verdadeira comemoração do real, com a prestação de contas do que fizemos e o compromisso do que vamos fazer. Com alegria por tudo o que conquistamos e realizamos nos últimos 12 meses, com a confiança de que estamos no caminho certo. Melhorar o Brasil e a vida dos brasileiros."

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