São Paulo, sexta-feira, 30 de junho de 1995
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Rede é global, mas fato é local

MARIA ERCILIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Zamith não entrou em conflito com a Internet, mas com o Ibase. Ele colocava suas mensagens somente em duas conferências da APC (Associação para o Progresso das Comunicações, associação de ONGs que existe nos EUA, Canadá e países da América do Sul, da qual o Ibase é um dos fundadores); seu alvo acabava sendo uma fatia bem delimitada da Internet.
Na prática, seria impossível entrar em conflito com as ``normas da Internet". A rede não tem uma administração central.
Os textos dele eram colocados na ax.brasil, uma conferência do Alternex, destinada a discutir questões brasileiras, e na pt.brasil, uma conferência do PT.
O Ibase não é uma instituição comercial. O Alternex sempre se reservou o direito de aceitar ou não inscrições de usuários. O assinante do serviço assina um termo de compromisso ao se inscrever, dizendo que se conforma com os princípios de utilização da APC. A intenção de Zamith era a provocação, já que a ax.brasil e a pt.brasil abrigam principalmente discussões de esquerda.
Os títulos das mensagens trocadas nesta conferência ``Sociedade e participação", ``Virtual Friends Society", ``a favor do Brasil e dos índios" etc. As mensagens de Tarconal, do tipo ``Terroristas do PT", são um corpo estranho no índice da ax.brasil.
Zamith só frequenta a rede há três meses. Talvez ele não saiba que este seu procedimento -entrar num grupo de discussão e colocar mensagens frontalmente opostas ao teor dele- é passatempo comum na Internet.
Isso é favorecido pela estrutura da rede, dividida entre grupos fortemente sectários, pautados por interesses restritos.
Neste caso a briga é mais local ainda. Nem sequer dá para dizer que ``Tarconal" punha mensagens na Internet; seu alvo era única e exclusivamente a audiência local. Sua presença era invisível fora do âmbito das redes da APC (as conferências da APC são distribuídas na íntegra somente para as instituições na rede, em 18 países).
Por outro lado, na prática, devido ao fato de que hoje o Ibase acaba sendo a única porta de acesso à Internet no Brasil que não é ligada a instituições acadêmicas e de pesquisa, Zamith está fora da Internet.
Vai ter de esperar a instalação de provedores de acesso à rede no país (o governo promete começar a alugar acesso à rede para empresas interessadas em setembro; embora não seja proibido que empresas privadas instalem seus troncos de acesso, ainda não surgiu nenhum serviço privado no país).
Resta discutir em que extensão houve censura a idéias. O caráter não-comercial do Ibase permite que o instituto retire a senha de qualquer usuário a qualquer momento -basta decidir que este não está servindo a suas finalidades.

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