São Paulo, sexta-feira, 30 de junho de 1995
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A mão de FHC só tem 4 dedos

WIRTON PALERMO

O sistema de saúde público vem se degradando desde 1983. Foi nessa época que a Previdência decidiu reduzir a receita destinada à saúde, cortando-a de 25% para 8% do total arrecadado. A partir de 1988, a Constituição garantiu o direito a todo cidadão de ser atendido pelo sistema público, sem se preocupar, porém, com a receita necessária para esses gastos.
A consequência foi desastrosa: o que já se encontrava ruim, piorou. Desde março de 94 a Previdência deixou de repassar sua receita para o setor de saúde e, com isso, o Tesouro Nacional passou a financiar o sistema. Portanto, hoje, temos um Ministério da Saúde responsável pela sua própria política e gerenciamento, mas sem recursos suficientes.
A partir da implantação da primeira etapa do Plano Real, a situação vem se tornando mais caótica. Durante os quatro meses da URV, as despesas dos serviços médicos foram convertidas e pagas nessa moeda, mas os valores recebidos do governo não foram ``urvizados", causando prejuízos aos prestadores de serviços. Na criação do real, em 1º de julho, os valores de remuneração foram divididos por CR$ 3.504,00, enquanto que toda a economia acompanhou o valor de CR$ 2.750,00, o que provocou uma redução de 30% nos valores pagos. Nos meses de junho e agosto de 94, o sistema de saúde deu um "calote de 25% e 17%, respectivamente, nos valores dos serviços prestados e até hoje não existe nenhuma perspectiva para que os valores sejam quitados pelo governo.
Para agravar ainda mais a situação, os serviços prestados nos meses de novembro e dezembro de 93 foram pagos com 45 dias de atraso, enquanto os de novembro e dezembro de 94 tiveram um atraso de 65 dias em seus pagamentos.
Como podemos ver, não há sistema de saúde, por melhor administrado que seja, que possa resistir a essa séria "inconsequência financeira, provocada exclusivamente pela equipe econômica do Plano Real.
Durante sua campanha, o presidente FHC mostrava uma mão espalmada, com os dedos representando as cinco prioridades do seu governo. Um deles era o compromisso com a saúde. Hoje, lamentavelmente, com a política econômica adotada por sua equipe, esse dedo é o primeiro que já se encontra em fase de gangrena e seu único caminho será a amputação.

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