São Paulo, sábado, 1 de julho de 1995
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E o Capitão leva a caravela Portuguesa

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, porque hoje é sábado, é dia de júbilo, de celebração, de rito bonito no vale do Pacaembu.
No teatro municipal da deusa bola, no próprio da municipalidade, duas torcidas em estado tecnicamente de êxtase (alegria e angústia ao mesmo tempo, segundo a minha psicologia de dicionário).
As novas mexidas no Plano Real serão um novo dissabor, um novo travo, uma nova amargura na vida material das magnéticas, mas, o que fazer, hoje é dia de gritar de euforia nas galerias do vale.
Estará lá a mais eufórica das galeras da nova ordem das torcidas: os torcedores fabulosos da fabulosa, os ``lions kings" do Canindé com a juba em júbilo.
Fica bem esta franqueza, fica bem, que o povo jamais olvidará. O cândido time do Candinho tem algo da polidez, da lusa-lisura, do formalismo do além-mar.
Em um certo aspecto, a Portuguesa tem uma vantagem sobre o Corinthians: está corporalmente mais íntegra e também mais integrada coletivamente.
As caravelas, pelos flancos, sabem içar as velas é preciso, viver não é preciso. Pela direita, o argonauta Edinho é ousado, destemido, gosta de aventuras por mares nunca dantes navegados.
Mas os navegadores só se lançam ao mar porque sabem que fica para trás o porto seguro da defesa onde o Preud'homme do Canindé é um cais que deixa os saveiros prontos para a partida.
A trabalhar no convés meio-campista, uma legião de velhos marinheiros cheios de histórias para contar (são os primeiros narradores) que, no nevoeiro, levam o barco devagar. Mas com tempo bom...
Não é à toa que ali está o bambalalão senhor Capitão, um velho lobo do mar que navegou até pelos mares do Oriente.
Seu labor é auxiliado pelos incansáveis contramestres ``pulo pulo e não Caio" e ``oi bota aqui, oi bota aqui o seu pé-Zinho". A Portuguesa não é um fado... a Portuguesa é foda.
Deu verde-vermelho e branco no Rio. A bandeira tricolor se repetirá em essepê?
Mas de ébano e marfim tem sido este 1995 que já está ali pela meia idade, como a vida passa rápida, meu Deus!
Ganhou a Copa paulistana com a sua teenbolada embalada, os Gaviões ganharam o Carnaval (``sou gavião, levanto a taça"), ganhou a Copa do Brasil.
Esta tarde é uma daquelas em que o imponderável de Souza (já que o próprio Souza não pode vir) vestirá as meias brancas, o calção preto e a camisa branca.
O irracional está de novo no ar. Sem a sua força técnica máxima, os desígnios do imponderável jogam pelo Corinthians.
E, alô, alô, Luciano do Valle, tudo em nome da nossa compartilhada alegria. Porque com gol dói menos do que sem gol, não é mesmo? Inté o Rose Bowl.

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